Huasipungo
significa no Equador a parcela de terra cedida pelo dono das terras à família
indígena em troca de seu trabalho. E assim se chama o romance de Jorge Icaza,
publicado, pela primeira vez, em Buenos Aires, no ano de 1934. É considerado
pela crítica a sua obra mais significativa e segundo Jean Franco (Historia de la Literatura hispanoamericana,
Barcelona, Ariel, 1975), uma das obras realistas de maior força na Literatura
do Continente.

Jorge Icaza
pertenceu à geração de escritores que via os indígenas como uma força de
vanguarda contra o imperialismo. Em Huasipungo,
enfrentam-se os expropriadores das terras e os índios que nela moram.
Embora seja a
sorte de todos eles que esteja em questão, o romance individualiza a tragédia
num personagem, Andrés Chiliquinga. Explorado até um indiscritível limite, por
fim, compreende que o único a fazer é rebelar-se contra a injusta expropriação
do huasipungo. Sua resistência é a de todos. No entanto, eles já não tem forças
nesse universo onde as armas sempre haviam sido desiguais.
O patrão é dono
de tudo assim como de tudo se apropria. Quando precisa de ama para seu neto,
ordena que uma índia e depois outra e outra lhe dê de mamar ainda que em detrimento
do próprio filho; como qualquer outro que detenha um pouco de autoridade,
dispõe do corpo das índias, indiferente ao que elas possam querer ou sentir; determina
castigos físicos para fazer pagar atos que, no seu entender, se constituem infrações.
Decide ignorar a lei do huasipungo, determinando a expulsão dos índios de suas
terras.
A miséria mais
atroz e esse estar subjugado à vontade do outro vai sendo a matéria do romance
numa sucessão de tormentos e de humilhações.
Porém, mais do
que nas palavras dos brancos Um personagem diz: É possível fazer com os índios o que a gente tiver vontade. E, diz outro: Ninguém como eu para conhecer e dominar o látego, o garrote, a bala, a
sem-vergonhice dos índio [...]. Porém,
mais do que nas palavras dos brancos, mais do que nos seus atos e nas suas ordens, -tudo afinal, tão conhecidos - a grande voz desse romance está no silêncio.A
índia Cunshi silencia ao ser violada pelo patrão; Andrés Chiliquinga silencia
quando o mandam trabalhar muito longe, quando se fere brutalmente ao realizar a
tarefa imposta, ao apanhar diante dos outros, ao ter diminuído o salário para
pagar estragos que não fez ou que não pode evitar; a família dos índios silencia
ao ser expulsa do lugar onde sempre vivera, vendo a pobre choça ser posta a
baixo.
Quando os
soldados, a mando dos que se presumem
donos da terra, incendeiam os ranchos, essa voz forte que se ergue nas páginas
finais do romance, para dizer, com desespero nossa terra é uma voz que se perde.
Porque sobre a destruição
irá pairar, somente, o silêncio.
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