Seu
nome não se encontra nas histórias literárias. Nasceu no interior do Uruguai e
lá, distante da capital e dos modelos que por ela são ditados, foi escrevendo
seus poemas-relatos.Em 1954, publicou o primeiro livro Poemas, aos que se seguiram Druída
em 1955, Historial de las violetas e
Magnolia dez anos depois. A eles
acrescentou La guerra de los huertos
e Está en llamas el jardin para compor
um único título: Los papeles salvajes,
publicado pela Arca de Montevidéu, em 1971.No todo, uma obra estranha,
testemunho de uma profunda emoção expressa em hiperbólica imaginação que tira
sua seiva da natureza feita de flores, frutos, vento, chuva, pássaros e pequenos
animais.
Poemas, sua primeira obra é
composta de oito breves textos. Relatos de uma peregrinação que busca algo:
ovos de pombos, frutas, água, o guarda do bosque, ou algo de indefinível. E as
fugazes presenças da mãe, da avó, de um amigo, não afugentam o medo que move
essa figura de menina para quem se descortina um mundo de perfumes, de cores,
de ruídos.São cheiros de pântano, de vime, de amêndoa, de limão. São tons de
lilás, vermelho, verde, rosado, azul, alaranjado. E o branco. E o riso que se
eleva, como o uivar dos lobos, o ladrar dos cães.
É
sempre ela que sente. Sempre ela que delira, que sonha, percebe a vida real ou
imaginada a se agitar ao seu redor e faz dela algo a ser narrado. Sua palavra
busca o poema nesse suceder-se de comparações e metáforas, nessas
antropomorfizações, nesse repetir incessante de palavras e de expressões, nesse
fixar do efêmero, nesse vocabulário pleno de sugestões, desenhando um mundo de
cerejas, de glicínias e dálias.
Mais
do que nas aventuras da menina pelos campos, pelas árvores, pela noite, são os
seus achados estilísticos como narradora que conduzem a prosa poética de Poemas.
Como
as demais de Marosa di Giorgio é uma obra que foge às classificações e ao tempo
em que foi escrita.Paira iluminada e fugidia acima dos cotidianos e das lutas
que se travavam no seu país nesses dias e nesses tempos.
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