Em 1985, Carlos Fuentes
publicou Gringo Viejo, pela Fondo de
Cultura Económica.
O título sugeriria ser o
velho norte-americano a razão da narrativa. Foi, certamente, dela a origem como
esclarece a nota do autor no final do romance, construído a partir das
circunstâncias em que Ambrose Bierce, jornalista da rede Hearst e ficcionista,
desapareceu no mês de novembro de 1913.
Havia se despedido epistolarmente
de seus amigos; dizia-se velho e cansado e se acreditando no direito de
escolher a maneira de morrer.
Inventar o que poderia ter
ocorrido na última aventura em que se engajou, foi tarefa do romancista. Em Gringo Viejo, como personagem, é o
norte-americano de quem todos ignoram o nome, cuja vida se entrelaça com a de
Harriet Winslow e com a vida de Tomás Arroyo: uma professora de Washington
perdida em meio a uma revolução que ignorava estar em curso; e o mexicano, um
dos generais dessa revolução.
Seres antagônicos com uma
visão de mundo a impedir que se compreendessem mas vencidos pelos sentimentos
nos quais se enovelaram.
Os norte-americanos, fugindo
de seus fantasmas; o mexicano em busca de uma identidade negada, do espaço que
lhe fora roubado. Fruto da violência, a conquista do que não possuíra só
poderia, então, acontecer pela violência. Porque uma nova violência era necessária para acabar com a velha violência.
A professora, acreditando
nas regras que seguia; o mexicano, querendo criar aquelas que fariam desaparecer
as humilhações, a submissão. Que levariam a um mundo já não mais dominado pelos
caciques, pelas sacristias, pelas aristocracias
ridículas.
Era o general – a desgraça me nomeou general – igual a
seus homens. Igual àqueles que não mais queriam viver de cabeça baixa e que
haviam se dado o direito de lutar.
Na fazenda, cercada por um
deserto que os proprietários desejavam estéril
e duro para se proteger e que não impediu, porém a passagem dos
revolucionários, eles entraram vitoriosos. Dela tomam posse e no salão de
baile, um Versalhes em miniatura, irrompe a festa. Gritos e risos se erguem,
seguidos de um repentino silêncio. Quando os homens e as mulheres da tropa do
General Tomás Arroyo, pela primeira vez, se vêem refletidos num espelho.Paralisados por suas próprias imagens, pelo
reflexo corpóreo de seu ser, pela integridade de seus corpos, giraram
lentamente, como para se certificar de que não era mais uma ilusão. Foram
capturados pelo labirinto de espelhos.
As paredes cobertas de
espelho, destinadas a refletir, perpetuamente a dança elegante dos donos da
terra, reproduziram, nesse momento, a gente do povoado e da Revolução. De
repente, eles se haviam reconhecido nas imagens que viam. Somos nós, disse alguém e a expressão se repetiu enquanto a música
se fazia ouvir.
E os passos de dança e a alegria se instalaram no salão de espelhos.
Os antigos donos já se haviam refugiado em Paris fugindo do pó, das balas, do confronto.

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