“A Literatura como
consciência do Povo” faz parte de uma coletânea – entrevistas, reflexões
dispersas e um romance inédito – preparada pela professora Maria Zenilda
Grawunder, de Porto Alegre, cuja publicação pela Graphia do Rio de Janeiro é de
1955: O cheiro da coisa viva.
O texto data de 1977, quando
o escritor gaúcho respondeu a um questionário sobre cultura brasileira, solicitado
por Escrita, uma publicação
paulista.
Aparentemente, Dyonélio
Machado se submete ao balizamento das
perguntas e discute alguns temas – a cooptação dos intelectuais pelo Poder, a
relação entre cultura e classes sociais, o imperialismo na reflexão sobre a
cultura – que, evidentemente são, sempre, inesgotáveis. Sobretudo para quem já
muito vivera – Dyonélio Machado tinha, então, 82 anos – e sem deixar de
perceber o que acontecia no país.
Assim, ainda que pretendendo
se ater às perguntas formuladas, muitas outras observações se acrescentam às
respostas, enriquecendo-as numa contribuição efetivamente ampla e perspicaz.
Dyonélio Machado defende a
correção e a pureza do idioma, comprometido pelo tipo de autor que ele chama de
reivindicador iconoclasta. O que
atropela a pontuação, a sintaxe, o significado, a grafia numa rebeldia sistemática
que, alheia a qualquer apreciação
dialética, busca apenas a originalidade e expressa, então, simplesmente, o
vazio e o mau gosto.
Observação que, é óbvio, se
entrelaça com a que diz respeito aos estrangeirismos oriundos, já nessa época,
somente da “poderosa nação do norte” cuja língua exerce tanto fascínio quanto
seus costumes, suas mercadorias, seus objetos de uso cotidiano que se derramam sobre nós, como uma ganga mineral,
resíduo praticamente inaproveitável, devido a uma impossibilidade intrínseca de
integração.
Daí o êxtase que alimenta
grande parte da população brasileira por tudo aquilo que procede dessa Meca da atualidade, desse centro
continental da tecnologia que é preciso conhecer e se possível imitar,
desse país das benesses.
Sabiamente, Dyonélio Machado
esperou (ou almejou) que o tempo dialeticamente
levasse os brasileiros a negarem a repetição, a redundância vinculadas a essa
desastrosa submissão.
Vinte anos passados,
poder-se-ia, também almejar que pudessem se tornar conscientes do que verdadeiramente
representa o imperialismo cultural.

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