Nós
trabalhamos mil anos a terra antes que
chegassem os agrimensores e os advogados e o exército para dizer: a terra já
não é de vocês, a terra já foi subastada, mas fiquem aqui para continuar
vivendo, servindo os novos donos ou do contrário morram todos de fome. Carlos Fuentes.
Os caminhos deles se
cruzaram quando buscavam a morte, a dignidade ou somente um lugar no mundo: o
gringo velho procurou o México para morrer e Harriet Winslow para ali viver de
seu trabalho. Tomás Arroyo queria, apenas, o direito de viver livre na terra
que lhe pertencia. Foram surpreendidos por profundos afetos. Um intermezzo de
vida no sombrio destino de cada um.
São belos e ricos
personagens que o romancista conduz mergulhados em aventuras da alma no espaço
de um Continente conturbado por uma luta em que os homens perseguem o direito
muito simples: o de poder existir como homens e não como escravos.
Carlos Fuentes, em Gringo viejo (Tierra Firme, 1986) fala
de paixões, fala da violência dos embates; dos homens que acreditam na
transformação do mundo em que vivem onde impera, sobretudo, a injustiça e a
opressão. Mas, também fala da terra,
tornando-a presente em brevíssimas expressões que, inseridas na narrativa,
completam, aos poucos, um quadro de aparência tão agreste e rude quanto os
homens que a habitam.
E as regiões desérticas,
habitadas por cobras e escorpiões, onde a vegetação se ergue afiada e nervosa, onde espinhos protegem
a beleza de uma flor selvagem, está em acorde com esses homens cuja história
foi feita de fugas, de negações, de um querer se preservar: expedições em busca
do ouro, tribos errantes e moribundas, movimento
perpétuo de fundações e dissoluções,
bonanças e depressões, genocídios tão
gigantescos como a terra e tão esquecidos como o rancor acumulado dos homens.
Um romance em que as
histórias de medo, de amores e de desenganos conduzem palavras e idéias.
O velho norte-americano
morre na morte que foi procurar no México; a mulher que atravessara a fronteira
para ensinar, apreendeu o mais profundo da vida. E, vítima de uma vontade
inventada, cai, baleado, o general mexicano.
Além da paisagem esboçada em
tintas de um quadro acabado e perfeito, além do momento em que se incrustaram
as paixões, é um narrar que faz emergir também, os sentidos do Continente.
Sentidos que a maioria mal
sabe entender ou explicar. E que os outros, os espoliadores, transformam
naqueles que lhes proporcionam os ilimitados privilégios.

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