Nuanças foi publicado em 1981 quando seu autor, Dyonélio Machado, tinha 86
anos.É um romance romântico.
Relato do amor entre Martimiano e Carmosina, ambos marginais. Ele, membro de um
partido político ilegal, o que ela ignora; Carmosina, vivendo, por vezes, da
prostituição o que ele tampouco sabe. Nas vésperas do casamento, o compromisso
é rompido e cada um segue a sua vida. Um reencontro, porém, os une outra vez,
para, então, serem felizes.
Lenta, transcorre a
narrativa, interrompida por reflexões de Martimiano, por observações do
narrador. Dão-lhe brilho, episódios que Antonio Hohlfeldt chama de lances
folhetinescos e uma sutil densidade psicológica dos personagens femininos, as
breves descrições do espaço urbano. Quadros que retratam a imobilidade de duas
casas que se erguem, iguais, numa esquina da praça deserta na escuridão da
noite.
As casas possuem portas para
a via pública por serem destinadas ao comércio; um oitão que se transforma em
fachada, a janela da mansarda na linha do
prumo que desce da cumeeira,
dando-lhe o porte desses grandes chalés
das montanhas onde há neve. A
praça se mostra primeiro a partir de sua forma: um trapézio originado do alinhamento das ruas longitudinais, buscando
uma ponta sobre o rio, onde desabar. Depois, a sua localização entre as
ruas que lhe dão acesso, esse aspecto de palco proveniente do declive da colina
que, suavemente, se aproxima do rio.
Na verdade, das casas e da
praça esse rápido esboço das formas é apenas motivo para levar Martimiano à reflexões
(desejos de fuga) e a estratégias de autoproteção (evitar ser apanhado pela
polícia). Assim, também é mostrada a paisagem que Martimiano tem diante dos
olhos na viagem que o afasta de Porto Alegre. Grandes traços – ponta de terra metendo-se água adentro, revestida de mato,
contornos de um edifício, o promontório, a
massa do monte, último e belo contraforte duma sucessão de estruturas antigas
– porém iluminados pela última luz cinzenta da madrugada, logo pelo sol nascente,
onde todavia o claro se traduz por um
vermelho flamejante.
A imagem da água, rios
correndo para o mar trazem ao personagem a melancolia dos que fogem sem saber
se, por ventura, um dia voltarão.
Martimiano volta. Carmesina,
que as circunstâncias levaram à prostituição se regenera. Não havendo acusação
formal contra ele, pode voltar a ser cidadão. Um lugar digno e respeitável pode
ser dado à Carmosina a partir do casamento.
Dyonélio Machado, nas
palavras que dirige à mulher instigante,
virtual leitora, como um prévio aviso sobre a matéria do livro que antecede
suas páginas, usa a palavra romantismo.
Sem dúvida, romanticamente otimista esse final de romance aberto para a
felicidade.
Como um pano de fundo a
repressão, o arbítrio, a situação feminina, a delação.
Para Dyonélio Machado ainda
não chegara a hora de depor as armas.

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