Em 1949, Alejo Carpentier
publicou El reino de este mundo, relato
de feitos extraordinários acontecidos no Haiti entre 1760 e 1820 quando ocorreu
a insurreição dos escravos, a abolição da escravatura e o fim do império do rei
Henri Christophe.Eleito presidente da República pela Assembléia Constituinte,
cinco anos depois, se proclamou rei e assim governou parte do país até 1820
quando se suicidou.
Intitulara-se Henrique I e
quisera repetir no seu país de ex escravos, uma corte francesa. Uma corte onde
os uniformes dos oficiais tinham mais pompa do que os usados pelos oficiais de
Napoleão; onde o palácio, em tons rosados e com janelas arqueadas, era rodeado
de terraços, estátuas, arcadas, jardins, pérgolas, arroios artificiais; onde as
mulheres se enfeitavam com plumas e usavam os vestidos de cintura alta
prescritos na corte francesa.
Mas, onde os trabalhadores
negros serviam sob o látego de guardas negros, tão escravos e maltratados como
no tempo em que os brancos eram os donos do Haiti: crianças, mulheres e velhos
trabalhavam, como formigas, na construção de um castelo fortificado, sem
direito ao descanso.
O rei negro que pretendeu
fundar uma dinastia, fazia de seu povo o que os brancos haviam feito nas outrora
férteis plantações de açúcar: peças de uma engrenagem para produzir riquezas.
Esquecendo suas origens,
adotara a língua dos que no passado haviam explorado a ilha e os homens. Assim
como adotara seus gostos e costumes. Usava casaca cheia de
condecorações, assistia missa, pagava uma governanta branca para educar suas
filhas e se rodeava dos mais diversos objetos europeus trazidos para a ilha.
Na sua ambição, fora além de
todos os monarcas franceses. A fortaleza que ordenou construir, ignorando o
sofrimento e as vidas que se perdiam para erguer-lhe os muros, de nada lhe
valeu. Pretendendo-se um reformador apenas se serviu de crenças e rituais
alheios que não o defenderam da fúria dos humilhados.
Esses que pensava abandonar
à própria sorte quando no alto da Cidadela em construção mensurava todo o seu
poder, acreditando que a eles só restaria levantar os olhos para a fortaleza cheia de milho, de pólvora, de ferro e de
ouro... As injustiças e a miséria,
porém, os tiraram da submissão quando não mais se resignaram a somente contemplar
a riqueza dos outros.
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