Os homens já estavam no
porto esperando a partida para a América, abandonados pelos capitães, presa das
dúvidas e das incertezas. Foram muitos dias de espera
cheios do medo por esse futuro indecifrável que os aguardava. As naves partiriam da
Espanha em busca de especiarias e duzentos e trinta e sete homens esperavam a
partida. E, antes dela, esperavam pelos capitães das naves. E eles chegaram anunciados
por uma densa nuvem de pó, as armaduras brilhando ao sol. Ao sol forte do sul
da Espanha, com as pesadas armas nos ombros, as mãos em fogo, os pés doendo os
homens esperam e, finalmente, os vêem chegar nessa usual exibição de pompa dos
dominadores.
E chega o capitão Fernando
de Magalhães igual a um Deus. Suas armas que reverberam e a
capa de veludo verde que cobre suas costas e as ancas de sua cavalgadura lhe
dão um aspecto sobrenatural, inumano.
E chega entre veludos e ouros, o intendente da esquadra, vestido de camisa de
renda.
Mostram-se os escudos. Os
pendões e as lanças se agitam. Há ruídos de ferros e um murmúrio de sedas. Há estrépito
de cascos.
Apenas um gesto com a mão
enluvada do capitão é suficiente para indicar o rumo e ele passa, arrogante, entre
os homens que o irão obedecer.
Completado o tempo de
espera, os barcos se põem a navegar no dia 20 de setembro de 1519, para a
conquista do mar até as árvores da canela.
Napoleón Baccino Ponce de
León, no seu romance Maluco (Prêmio
Casa de Las Américas, 1989) relata essa epopéia iniciada na espera do porto e
prolongada por mares e terras jamais vistos.
Da fome e do frio, do medo,
das desilusões, muitas vezes da morte se livraram os doze homens que não resistiram
à angústia da espera no porto e desertaram.
Os outros, que presenciaram
a chegada dos capitães com seus movimentos de ferros e ouropéis e não encontraram forças para desistir tiveram o
destino dos que se submetem à voz de mando.
A voz de mando que para ser
melhor obedecida, serve-se, também, de rituais e da pompa que parecem ser ainda
mais eficientes para convencer os homens do que a lógica e a razão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário