Este desejo de ver o país
livre dos cancros que o corroem desde que se proclamou como nação, comum a todo
habitante do Continente, é vivamente expresso nas últimas páginas de um livro
que permaneceu muito tempo sem leitores.
Queríamos o que será a glória de amanhã: uma América feliz na clemência
de seu clima, no esplendor deste céu, inteligente, laboriosa e pacífica na
comunhão social, meiga e fraternal na expansão natural da instintiva cordialidade,
afastada dos egoísmos ferozes que aviltam outras civilizações. Palavras
confessadamente originadas numa utopia e que provocariam sorrisos incrédulos se
não fossem os causticantes textos que as precedem.

Causticantes e convincentes.
América Latina; males de origem, é
um estudo sobre as causas do atraso em que está mergulhado o Continente que se
contrapõe àqueles das idéias já enunciadas por europeus.
Manoel Bonfim não repete as indiscutíveis verdades pregadas ao longo dos anos: inferioridade racial dos
povos mestiços no seu modo de ser e de viver em que domina a incapacidade
criativa e a preguiça. Suas idéias e reflexões buscam novos caminhos para
entender a história do Continente.
Escrito em 1903 e publicado
dois anos depois o seu livro, que, por claras razões, permaneceu à margem do
processo intelectual brasileiro, teve uma nova edição em 1993 e esses noventa
anos passados em nada diminuíram sua pertinência e atualidade.
Porque o texto de Manoel
Bonfim diz bem claro que os saques e a pirataria se prolongando no Continente
fizeram de seu destino uma trajetória de espoliações. Os conquistadores da
Península Ibérica instituíram nas suas colônias a prática do roubo e da
destruição que prevaleceram nos séculos antecedentes das conquistas marítimas. A busca do enriquecimento,
advindo da pilhagem, se perpetuou, então, no Continente. As riquezas naturais foram
devastadas e, sacrificadas, a serviço da ambição. E a vida dos índios e, mais
tarde, a dos negros. Esta instituição do saque de
que fala Manoel Bonfim irá se eternizar nas novas nações, originadas das colônias
ibéricas, cuja organização social continuou a tê-lo como norma, agora
perpetrado contra as forças de trabalho. E todos esses que estão na
base da estrutura social sem escola, sem saúde, sem lazer, sem moradia e sem
comida continuam a ser saqueados nos seus direitos mais simples.
Manoel Bonfim deu um nome a seus exploradores: parasitas.
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