Dividido em doze capítulos,
correspondentes a cada um dos meses do ano, narra uma encantadora conquista: a
de ir viver numa velha casa encravada na montanha à qual se acrescentaram
outras grandes descobertas, sobretudo a de um modo de vida que ignora, quase
sempre, o relógio e é regida pelos prazeres da mesa.
Breves referências à
paisagem de montanhas e vales do Luberon, uma simpatia bem humorada pelos tipos
que vai conhecendo, seu trabalho, seus gestos, a maneira como se expressam,
suas histórias.
Entre elas, a do galo que,
de madrugada, acordava com seu canto os novos vizinhos. Haviam comprado a casa
para passar as férias. As reformas foram feitas e no verão eles chegaram com
os amigos. E o galo cantava. Os parisienses que desejavam acordar tarde
reclamaram para o dono que, evidentemente, nada se dispôs a fazer. A forma
jurídica usada para fazer o galo calar lhe deu ganho de causa e nas segundas
férias em que não puderam dormir, vencidos, os parisienses puseram a casa à
venda.
Por intermédio de um amigo,
o dono do galo comprou a casa por um bom preço. O rendoso negócio foi, então
festejado com um jantar cujo prato principal foi um coq au vin.
Lamentável fim para um galo
que nada havia feito senão cantar nas horas em que é de praxe que os galos
cantem.

No extremo sul do Continente
também o Príncipe, assim se chamava o galo, cantava.
Só que sua história não tem
por fim louvar espertos tinos comerciais mas, sim, a amizade estabelecida entre
ele e seu dono.
Brandino havia visto um
galo-músico em São Francisco de Assis e quis ter um igual. Fez a encomenda para
um carreteiro e de volta a seu vilarejo ficou esperando.
O galo foi trazido um dia,
pequeno e feio e mudo. Sem cantar ficou uns dias até que o novo dono, já desiludido,
o soltou num terreiro entre os outros.
Já crescera, já tinha uma
bela plumagem, uma crista vermelha, esporas fortes e, entre os seus, fez o que
dele se esperava. Na madrugada seguinte cantou como um galo-músico deve cantar.
E, a partir de então, alegrou todas as madrugadas da Vila Nossa Senhora do
Passo do Rosário e a janela de Teresa onde o dono o levava para fazer
serenata. Ganhava grão de milho na palma da mão da moça e, assim mimado e de
papo cheio deixava a namorada de Brandino feliz e faceira.
Quando casaram, Teresa e
Brandino foram morar na fazenda e levaram o galo-músico.No princípio, a
imensidão do terreiro e seus perigos - lagartixas, lagarotos, cobras, aranhas,
gatos, cachorros - o amedrontaram. Mas, um dia ele reagiu empinou o papo, ergueu a
crista, bateu asas e cantou.
E forte e cantor foi temido
e respeitado no enorme terreiro da fazenda até que numa noite de chuva foi
surpreendido por uma raposa. Lutou para se defender, foi socorrido pelo dono,
mas já era tarde.
E Brandino contava e repetia
a história do Príncipe, suas façanhas amorosas, sua valentia para concluir: um consolo, porém, eu tenho: morreu como um
bravo, lutando.
De comum entre esses dois
galos apenas o canto que alçam de madrugada. Se, do galo provençal tudo se
ignora, salvo essa morte que lhe interrompe o canto, do personagem de Cyro
Martins muito se conhece e também, o amor que lhes devotam os donos.No relato
de Peter Mayle e n’O Príncipe da Vila
de Cyro Martins são ambos pequenas figuras luminosas e comoventes nessa morte
antecipada a que são condenados.Um morre na solidão própria do animal sacrificado;
o outro como vítima das leis que a natureza impõe.
Na verdade, talvez seja
irrelevante. Pequenos detalhes ficcionais neste mundo de homens tantas e tantas
vezes tratados como animais.
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