Na breve nota que antecede
esses escritos, Carlos Droguett afirma que eles fazem parte mais de sua vida
que de sua literatura.Na verdade, vida e literatura
se entrelaçam fortemente. Para mim a
Literatura é um ato total que interessa ao corpo e ao espírito do escritor, em
termos teológicos como um sacramento, em termos psiquiátricos, como um suicídio.
Ato total ao qual se acrescenta, ainda, a inabalável convicção de que a
literatura somente pode existir a partir de um compromisso. E, para ele esse
compromisso é com a justiça. Daí a pertinência da
resposta quando o jornalista lhe pergunta, após observar que a sua obra de
ficção aparece marcada pelo sangue e pela violência, por que ele aprofunda o tratamento literário desses temas. Porque a História de nosso país aparece
marcada pelo sangue e pela violência.
Sangue e violência que ele
não pode eludir ao escrever os três romances sobre a Conquista do Chile pelos
espanhóis ou ao escrever 60 muertos en
la escalera em que recria, na ficção, o ocorrido em Santiago, no dia 05 de
setembro de 1938, quando um grupo de jovens rebeldes, desejosos de mudanças
políticas, foram sumariamente assassinados por tropas governamentais. Um episódio que o emocionou
profundamente e lhe fez conhecer, como dirá quase trinta anos mais tarde, a sua
capacidade de odiar.
Seu entrevistador lembra
essas palavras para inquirir se essa capacidade de odiar diminuiu, com o passar
do tempo, ou se incrementou.Ironiza Carlos Droguett vejo-o muito preocupado pelo
incremento ou diminuição de minhas paixões antes de responder que qualquer pessoa normal deve sentir ódio diante das periódicas matanças
de operários e estudantes em nosso
país. E, então, por sua vez, pergunta: O
Senhor, não?.Uma pergunta que
evidentemente não foi respondida e da qual, com certeza, não era esperada uma
resposta. Porque parece ser de praxe no Continente, cultivar uma total
indiferença das situações que não digam respeito aos interesses imediatos da
classe que tem acesso à palavra e cujo olhar jamais se dirige para essas
injustiças que são do cotidiano e estão presentes na falta de comida, de
instrução, de saúde, de moradia, de lazer, fazendo com que a maior parte dos
que habitam a América não se constituam de cidadãos.
Também, muitas vezes, é de
praxe marginalizar e perseguir os que ousam desejar transformações.
No ano de 1971, Carlos
Droguett dizia que era para pessoas como ele que Leon Bloy tinha escrito: Se os que receberam a investidura da palavra
se calam, quem falará pelos mudos, pelos oprimidos e os fracos? O escritor que
não escreve pela justiça, é um despojador dos fracos, um ladrão.
No dia 1º de setembro de
1975, já derrubada a democracia no Chile, com os ouvidos cheios dos sussurros
dos que não podiam ter voz, Carlos Droguett partia para o exílio.

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