Porque se os outros países hispano-americanos são, para nós
inacessíveis [...], no caso do Brasil - que precisa de tradutores - a inacessibilidade
adquire um caráter definitivo e total.É o que diz Rosario
Castellanos num pequeno livro publicado em 1979 no México: Mujer que sabe latin... título que é certamente parte de um
provérbio de antanho - mulher que sabe latim, não tem marido, nem tem bom fim -
mas que, sem dúvida, continua sendo verdadeiro e normalizador em muitas
latitudes ou, de uma forma ou de outra, em quase todas.
Rosario Castellanos é
romancista. Neste seu livro, porém, congrega pequenos textos sobre mulheres. Na
maioria, norte-americanas, algumas francesas, umas poucas latino-americanas.
Entre elas Clarice Lispector a propósito de seu livro A paixão segundo G.H. traduzido para o espanhol. Algumas linhas a apresentam
como uma das grandes narradoras da língua portuguesa e fazem referência a seus
livros. Seguem-se os comentários sobre este que foi traduzido no México,
comentários que se atêem somente ao texto em questão. No início de seu artigo,
Rosario Castellanos já observara que um livro, um autor genial, não surgem no
vazio, mas num contexto formado tanto pela tradição herdada quanto pelas obras
que lhe são contemporâneas. E o mundo de Clarice Lispector, a articulista
desconhece como desconhece os demais mundos do Continente.
Para que tal observação não
seja considerada como uma crítica, se torna oportuno lembrar que, no mesmo ano
em que era publicado Mujer que sabe
latin..., Octavio Paz num programa de televisão mexicana, refletia sobre a
veiculação de notícias na América Latina. Dependendo das agências noticiosas do
Primeiro Mundo, os países do Continente só conseguem saber dos outros através
da ótica daqueles que detém o monopólio das informações.
Filtradas ou censuradas ou ignoradas, as notícias sobre fatos do Continente são preteridas pelas que informam sobre sucessos do Primeiro Mundo.
E assim como só se acredita
ter importância o que no Primeiro Mundo acontece, também na literatura somente
tem valor o que no Primeiro Mundo é produzido pois, na sua grande maioria, é
esta convicção colonialista que norteia, quase sempre, a política editorial do
Continente. E que irá explicar que dos vinte e três artigos que formam Mujer que sabe latin... apenas três
versem sobre escritoras da América hispânica: Maria Luiza Bombal, do Chile;
Silvina Ocampo, da Argentina e Ulalume Gonzalez de Leon, uruguaia, mas vivendo
no México.
Ou seja, não é o saber latim
que levará a escritora latino-americana ao ostracismo, originado da falta de
leitores. Mas também o se expressar em espaços historicamente induzidos ao
isolamento.

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