Foi dito que Maria Carpi
começou a escrever muito cedo. Que se deixou absorver por uma profissão cujos
caminhos podem ser luminosos como aquele que escolheu : lutar pelos direitos da
criança e pelo acesso dos pobres à justiça. E que se desfez de seus primeiros
textos para reiniciar sua obra poética, já na maturidade.
Há muito pouco tempo esta
obra está vindo à luz. Em 1990, o seu livro de estréia, Nos gerais da dor, publicado pela Movimento recebeu o prêmio
“Revelação Poesia da Associação Paulista dos Críticos de Arte” e o prêmio
“Érico Veríssimo” da Câmara dos Vereadores de Porto Alegre.
No ano seguinte, a mesma
editora lançou Desiderium/Desideravi
ou como se esclarece na folha de rosto, o
desejo de desejar-te.
Um livro construído em oito
cantos cada um deles possuindo um número desigual de poemas. Os seis primeiros
têm como título elementos da natureza que, no entanto, não se constituem o
cerne do poema, mas elementos invocados para expressar o que o pudor da voz
poética torna indizível.
O amor, o amado, o ato
amoroso, os caminhos da alma emergem desses versos de Maria Carpi tão profundamente
puros que é como se somente palavras fortemente sugestivas - árvore, água,
fruta, pedra, fogo, luz - pudessem ser deles o símbolo.
Sem dúvida, um eu feminino
que se revela no hermetismo buscado em distantes versos barrocos e na concisão
que regulamenta o exibir dos sentimentos.
Na prisão das palavras
encobridoras, a ânsia da entrega, o entrelaçamento perfeito do corpo e da alma,
o se sentir chegar às origens da vida se deixam, no entanto, perceber.
As palavras se combinam,
perfeitas, e cada verso constrói um mundo de certezas e de dúvidas girando em
torno do amor, do erotismo, da procura e do encontro de si mesma e do outro.
A voz de quem, ainda que
amando profundamente não abdica de pertencer ao mundo e de conhecer-lhes as
leis e que, ao se levantar, não fica encerrada nos limites do indivíduo mas
alcança tons que podem ser de todos.
O
grande suplício não está nas trevas do corpo. Mas nas chagas da luz. O grande
suplício não está no amor que se afasta. Mas no afastado que permanece. O
grande suplício do que parte com a permanência e do que fica com a vacância.
Num só fruto.
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