Amanhã me digo já adormecendo, vou ouvir Borges chover no molhado com a
sua sempre linda chuva, conta Thiago de Mello depois de ler infinidades de entrevistas do
escritor argentino, concedidas à imprensa internacional, intrigado de que sempre,
e ao longo dos anos, ele trata dos mesmos assuntos, repete as mesmas frases.
Tal constatação não o
impediu, porém, de entrevistá-lo no seu apartamento de Buenos Aires em 1981 e
em 1984.
Seis anos depois, Thiago de
Mello publica essas duas entrevistas no livro Borges na luz de Borges (Pontes Editores, Campinas) em que
intercala comentários, baseados em fontes relacionadas no final da obra, às
perguntas e respostas. E, estas são apresentadas por temas.
Na rubrica “Borges
professor”, o entrevistado fala de sua atuação como professor de literatura
inglesa, na Faculdade de Filosofia e Letras de Buenos Aires, quando aconselhava
os estudantes que não se preocupassem com a bibliografia sobre o autor e sim
com sua obra.
Talvez essa afirmação ele
não a tenha repetido ou repetido tanto quanto outras que fazem parte de seus temas obsessivos. Porque, se mais
conhecida e incorporada tivesse sido, certamente teria modificado essas aulas de literatura em que o professor
não ousa ler ou propor a leitura de autores que não tenham recebido a aprovação
da crítica ou da historiografia. Sobretudo aquela pautada por parâmetros
forâneos, vindos de países considerados irradiadores da cultu
Como nem sempre os países do
Primeiro Mundo julgam pertinente se debruçar sobre a produção literária do
Terceiro Mundo, que lhes fica, então, desconhecida, e como os Países do
Terceiro Mundo não se voltam uns para os outros e sim para o Hemisfério Norte,
obras de imenso valor permanecem limitadas a seu espaço geográfico.
Dele apenas poderão sair se descobertas por esse acadêmico ou
crítico do Primeiro Mundo que, para alguns, são os únicos que detém o poder de
enunciar apreciações válidas.
Ou, se houver nos seus
próprios espaços geográficos, entre os que se ocupam da literatura, aqueles
cujo acervo e discernimento lhe permitam emitir opiniões e conceitos que possam
levar à apreciações modificadoras sobre o que é produzido em seus respectivos universos
e nos demais que fazem parte do Continente que, até para o prazeroso ato da
leitura, foi e continua sendo colonizado.
Saindo dos trilhos traçados
talvez seja feita a conquista para a liberdade.
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