O relato é feito na primeira
pessoa. Eloy, bandoleiro perseguido pela polícia se vê encurralado num rancho.
O cerco dura poucas horas e termina ao amanhecer quando, refugiado num bosque
próximo, ele é crivado de balas.
Sozinho e alerta e na
expectativa de mais uma vez poder fugir, essas horas transcorridas no rancho e,
depois, no meio do mato, se enchem de suas lembranças e de seus planos para o futuro.
Episódios de uma vida
aventurosa vão se mostrando através de monólogos em que imagens do passado ou
desejos para quando se encontrar livre se intercalam com imagens do mundo
circundante que é apenas o que pode ver da janela do rancho ou entre as folhas
das árvores. A essa voz, em primeira pessoa, se mescla a voz de um narrador
básico que, muitas vezes, se afasta da onisciência tradicional. Como observa
Teobaldo Noriega, da Universidade de Freut, Canadá, se trata de uma onisciência
que estará, cada vez mais, a serviço da consciência do personagem.
No excelente estudo sobre os
romances do escritor chileno, La
novelística de Carlos Droguett: aventura y compromiso (Madrid, Pliegues,
1983), O professor Noriega nota as diferentes modalidades quanto ao ponto de
vista que determinam a estrutura dinâmica de Eloy: narração onisciente objetiva, descrição onisciente servindo a
uma apresentação mais completa da psiquê do personagem, monólogo interior
direto, monólogo interior indireto, solilóquio.
Esse passar de um ponto de
vista para outro, ao longo da narrativa, facilita a inserção de zonas de
sombra, segundo o teórico argentino Oscar Tacca, a interrupção de informações.
Nos romances de Carlos Droguett é muito freqüente ser interrompido o relato em
determinado momento para ser retomado quando a situação de tensão extrema já
foi vencida.
E assim acontece em Eloy. O que não impede - e isto já foi
dito por Teobaldo Noriega - o leitor de conhecer toda a dimensão de sua
tragédia: debater-se entre a certeza da morte, que lhe será finalmente dada e
seu imenso apego à vida.
Seus últimos momentos são
apresentados pelo narrador básico. Atingido por várias balas, Eloy já está
caído. Ainda não amanheceu e começa a perder a consciência. Sente, bem perto,
os soldados. Consegue ver-lhe as botas e ainda resiste: poderei dormir um pequeno sono, meia hora estarei pronto dizia, sentindo-se cada vez mais cansado.
O cheiro das violetas sobre
os quais estava deitado o invadia. São
boas, são boas, disse para si e se afundava nelas e tinha a cara cheia de
flores e os ombros e as costas, a mão estendida também estava cheia de flores.
Sentindo o perfume das
flores, desejando a solidariedade desse soldado que sentia mais próximo e que
imaginava dizer Aqui estou, Eloy são
momentos que apenas antecedem o seu gesto de encostar o rosto na terra e se
perder.
A angústia de se ver
apanhado, os ferimentos, o sangue, a dor, como se não existissem nesses
momentos finais de vida.
Bandido por força das
circunstâncias, Eloy encontra a morte colando o rosto na terra, acreditando nos
homens e aspirando o perfume das violetas.
Perdeu-se diz o narrador. E, para separar esse momento do próximo, há o uso do
parágrafo composto de uma frase, a última do romance: Agora se moveram as botas.
O feio, o terrível e o doloroso
da morte não são mencionadas.
Eloy,
o romance mais conhecido de Carlos Droguett foi publicado pela Seix Barral de
Barcelona em 1960. No Brasil, em 1981 pela Codecri.

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