Na entrevista que ele
concedeu a Daniel Freidemberg, em setembro passado e publicada no dia 24 pelo Clarin Cultura de Buenos Aires, foram comentados os três livros anteriores
e as perguntas e respostas giraram, sobretudo, em torno da arquitetura destes
últimos contos, realmente exemplares.
Uma qualidade que nada tem a
ver com modismos porque a ruptura, termo que na Literatura latino-americana é
relacionado com a forma e com os temas, com um desejo de romper com o
estabelecido, em Abelardo Castillo está presente como algo existencial e não
literário diz Daniel Freidemberg.
E assim se passa em “El
hermano mayor”, que faz parte de Las
maquinarias de la noche.
No encontro dos dois irmãos
ao morrer o pai, renasce o conflito de cada um diante da vida que lhe coube,
revelado no sofrimento pela perda real que acabam de enfrentar e, mais
insistentemente, pelas outras perdas que se foram acumulando.
Um irmão, o mais velho,
ficou na cidade pequena; o outro, partiu. E, quando volta, para ver o pai
morto, só deseja partir outra vez.
O conto é construído nesse
diálogo entre os irmãos, alimentado pela figura do pai e pelas lembranças do
passado que os unem. É no diálogo, tenso, muito breve, marcando o momento da
chegada do irmão mais moço, o pouco tempo que ficou na cidade e a volta para a
estação que se desenha a figura do irmão mais velho e seu drama de solidão.
O narrador aparece entre uma
réplica e outra para notar gestos que acompanham ou substituem as palavras e
algo desse reduzido espaço em que eles se movem: uma rua com laranjeiras plantadas
nas calçadas, música de baile chegando de longe, flores brancas que a luz de
uma casa ilumina, os cascos de um cavalo batendo nas pedras da rua.
E, no meio desse jogo de
querer ou não ficar, de querer ou não a partida do outro, a decisão é tomada.
Não importa quem a tomou e o
que será da vida de cada um. Mas a figura desse irmão mais velho, com sua
aparente coragem e arrogância, de quem salvo as decepções, tudo se ignora, não
se desvanece.
Os traços que lhe dão vida e
a seu espaço e a esse diálogo mantido com o irmão, pouco seriam para uma
narrativa.
No entanto, Abelardo
Castillo a construiu. E exemplar.

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