O último volume da Revista Iberoamericana, composto dos
números 160-161, é dedicado à Literatura do Uruguay.
Está dividido em quatro
rubricas - Circunstâncias, Autores e Obras, Entrevistas e Resenhas - que são
antecedidas por uma “Nota Preliminar”, assinada pela organizadora, Lisa Block
de Behar.
Membro da Academia de Letras
do Uruguai, suas palavras introdutórias se ocupam dos princípios que nortearam
a seleção dos trabalhos e, principalmente, da “atmosfera” reinante nos meios
literários uruguaios.
É provável que ela esteja
cheia de razões quando, duramente, se refere à determinada crítica baseada em
“intolerâncias pessoais”, em “convivências estratégicas”, ou a autores que se
auto-promovem e são patrocinados por uma solidariedade que pouco tem a ver com
reais preceitos críticos.
Mas, num país tão pequeno -
e isso Lisa Block de Behar reconhece - cujo número de habitantes não ultrapassa
os três milhões e com uma vida cultural centrada na capital, difícil seria a
inexistência de nítidos sectarismos estéticos e ideológicos a separar os
diversos grupos o que, sem dúvida, é comum a todos os meios artísticos de
qualquer país.
Parece importante, porém, e
então o artigo de Fernando Ainsa é sumamente ilustrativo, o número de escritores que faz parte do mundo
literário desse pequeno país e a qualidade de muitas de suas obras.
No artigo “Catarsis
liberadora y tradición resumida: las nuevas fronteras de la realidad en la
narrativa uruguaia contemporânea”, o crítico e escritor uruguaio, que há muitos
anos, morando em Paris, não afasta os olhos de seu país, analisa a Literatura
uruguaia contemporânea a partir de três eixos históricos literários: o que se
situa a mediados dos anos sessenta, prolongando-se até o dia 27 de junho de
1973, data do golpe de Estado; o período compreendido entre essa data e 1º de
abril de 1995 quando a liberdade foi restaurada no país; a produção atual.
Uma análise extremamente
lúcida em que Fernando Ainsa estabelece relações entre o processo histórico
uruguaio e a criação ficcional surgida nessa época.
Para quem, no entanto, na
América Latina, se dedica a estudos de Literatura, o artigo também possui o
grande mérito de apresentar um panorama da Literatura uruguaia contemporânea
que é, sem dúvida, de riquíssima informação haja visto a tradicional
impossibilidade de conhecer a produção literária do Continente.
E, também, leva a refletir,
uma vez mais, sobre quão lamentável é esse desconhecimento de uma literatura
que, seja pelos seus temas, seja pelas suas conquistas formais e pelo
compromisso que manteve sempre com a realidade circundante, se constitui uma
das mais valiosas do Continente.





