O
exílio será uma palavra chave deste
decênio diz um personagem de Primavera
con esquina rota, romance de Mario Benedetti, publicado em Buenos Aires,
pela Nueva Imagen, em 1986. Palavra chave e que encerra significados vários. Muitos foram os países
que obrigaram seus cidadãos ao exílio e grande, o número dos que se exilaram.
Com exceção do Brasil – que razões explicariam esse não comprometimento do
escritor com os destinos de seu povo? – não houve país latino-americano que não
tivesse no exílio os seus melhores escritores.
Os textos produzidos então, puderam ser englobados sob a rubrica
“Literatura do exílio” que,
evidentemente, como qualquer outro rótulo, se tornou impreciso ou insuficiente
na medida em que o próprio exílio foi permitindo caracterizações: exílio
interior, exílio intelectual ou existencial, ausência do próprio país, produção
e publicação em país estrangeiro, tema do exílio na obra, por exemplo.
Da
“Literatura do exílio” a sua quantidade e qualidade justificam o aparecimento
de importantes trabalhos críticos que, ao se deterem no tema do exílio e nos
recursos estruturais e estilísticos que os construíram, tiveram que se deter,
também, no panorama político-ideológico do país que obrigou ao escritor esse
abrupto desenraizar-se. Cumpre-se, assim, o desejo do escritor: a luta
empreendida contra as opressões se enriquece de novas vozes e seus contornos –
a entrega gradativa do próprio país à cobiça estrangeira, a condução do povo
para a miséria sempre crescente – tornam-se mais precisos. E, muito nítidas, as
relações da Opressão com seus cidadãos.
Num
dos textos auto-biográficos que Mario Benedetti insere no romance Primavera con esquina rota,
ele narra dessa violência que o arranca de seu exílio no Peru e o lança de
volta a Buenos Aires de onde já tivera que sair, ameaçado por grupos
extremistas de direita: uma repetição hodierna encenada por humanos da fábula
de La Fontaine “O lobo e o cordeiro”.
Exilado
no Peru, fugindo das ditaduras do Uruguai e da Argentina, num fim de tarde, de
repente, autoridades policiais peruanas lhe concedem duas horas para deixar o
país. No aeroporto, quando o deixam perto dos degraus para subir no avião, o
inspetor de polícia lhe estende a mão e lhe diz: O senhor vai embora, certamente, ressentido com o Governo, mas não
tenha ressentimento com os peruanos.
Os
peruanos, eles, como também os uruguaios e os argentinos, ignoravam essa
tragédia que Mario Benedetti devia enfrentar por defender princípios e o
direito de expressão. E’evidente, que mesmo depois de seu testemunho, a
continuarão ignorando (como a tantas
outras) porque os livros, no Continente, são destinados somente a alguns
poucos.

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