O
auto exilar-se, procurando melhores condições de vida passa a ser, no
Continente, quer queiram ou não os seus
protagonistas, um ato profundamente político. As ditaduras ou as pseudo
democracias que vicejam nos países latino-americanos, ao se eximirem de
permitir a seus cidadãos aquele mínimo necessário para uma vida condigna, ao obrigá-los a partir em busca de um melhor destino, estabeleceram as mais
diversificadas rotas de imigração que jamais, como nos últimos anos, foram
usadas por números tão expressivos.
Um
drama – este abandonar a paisagem da infância, a casa, a rua, os objetos pessoais
e os entes queridos – tem sido registrado
pela Literatura latino-americana, principalmente na sua produção da última
década. Década esta que foi, extremamente pródiga em desterros, exílios,
auto-exílios, refúgios, expatriações.
Como
“en passant”, breves textos sobre o exílio imposto a si mesmo por um personagem
que precisa da riqueza para ser feliz, se impõem, não apenas como um daqueles
mais liricamente fortes e comoventes do romance, mas, também, pela nítida
denúncia de uma situação típica do México
– a imigração para os Estados Unidos – que, no entanto, se sabe, não é estranha
aos outros países do Continente.
Para
vencer a resistência paterna da mulher que ama, Bronco Reynoso deve ficar rico.
Ele parte para conquistar essa riqueza além fronteiras porque é no Norte que está o dinheiro. E o
sofrimento de partir, de suportar as agruras de uma viagem para muito longe, os
perigos, as humilhações na terra alheia nada são diante das lembranças que o
alimentam e lhe permitem resistir: E
torno a sentir teus beijos, não importa que estejas tão longe. Embora na
lembrança. O doce mel de teus sábios umedece ainda minha boca que engoliu o pó
dos caminhos. Embora na lembrança. O doce alívio de teu alento faça com que a
brisa traga odores gratos como o da azaléia, o da toronja, o do leite acabado
de ferver e que o ar saiba a louros tão
verdes que fazem chorar a imaginação na aridez
desses contornos. E’ o dizer de Bronco Reynoso que, na solidão do
monólogo, expressa a nostalgia do que deixou para trás. Entre essas palavras
murmuradas, rápidos diálogos que lhe teatralizam a chegada no país do Norte – o
medo, o desconhecido, os maus tratos – dizem, por sua vez, do preço que pagou:
atravessar o Rio Grande a nado, vendo nas margens as armas apontadas para ele; ter
que se entregar, sem documentos à polícia da emigração; escutar ser chamado de bastards, de fucking greasers; e ter que
trabalhar duro e dobrado para ficar rico e retomar o caminho de
volta.
Regressa e sua história de amor se
encaminha para o epílogo. Então, outros amores, outras honras feridas, outras
mortes passam a dominar o relato. Como se apenas contar de amores fosse a
intenção primeira de David Saches Juliao.
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