Ao
longo da História da América, marcada sempre por extremas violências, o exílio
foi uma constante. Porém, jamais como nas últimas décadas, sofrido por tantos e
por tantos escritores. Medrosos de sua
consciência crítica, os regimes de exceção, ao longo do tempo, continuamente a
emergir no Continente, lhes cancelaram a cidadania, pensando que assim lhes
impediriam a palavra. Não somente não o conseguiram como elas foram tão inspiradas – contos, romances, poemas,
teatro – que extrapolaram sempre o espaço da ficção para serem requisitados
testemunho.
E neles couberam os grandes gestos, momentos decisivos e cruéis e a pequena tragédia do cotidiano. E o exílio, um tema de muitas nuanças, mais do que a história de um destino, se constituiu a história de um povo, por vezes, dos povos do Continente.
E neles couberam os grandes gestos, momentos decisivos e cruéis e a pequena tragédia do cotidiano. E o exílio, um tema de muitas nuanças, mais do que a história de um destino, se constituiu a história de um povo, por vezes, dos povos do Continente.
Em
entrevista a Felipe Navarro, publicada em Novela
y exílio (Montevidéu, Signos, 1989), Daniel Moyano fala do livro sobre o
exílio que desejava escrever cuja origem
estaria naquela aventura de um amigo seu, também exilado. Uma vez, de repente,
sentiu saudades de um salgueiro e decidiu que teria um no apartamento onde morava.
Num dia de chuva, achou abandonada, numa
rua de Madrid, uma velha banheira, um
pouco estilo Luiz XIV. Chamou sua mulher pelo telefone e, juntos, carregaram a
banheira pelas ruas da cidade e a subiram até o quinto andar porque nela, o
exilado saudoso queria plantar o salgueiro. Esse episódio que tanto emocionou
Daniel Moyano, acabou não tendo lugar no seu livro. No romance que escreveu
então, Libro de navios y borrascas, ele contou de uma travessia,
não pelas ruas de Madrid com uma banheira às costas, mas daquela de exilados do Cono-Sul que partiram de Buenos Aires para chegar a
Barcelona. Apareceu, sim, no outro romance que escreveu logo a seguir Três golpes de timbal. Neste, os exilados já estão em terra alheira.
Daniel Moyano sabe, por experiência própria, como se torna imperioso o desejo
de procurar algo que sirva de ancoradouro. Não é difícil imaginar que o homem
desterrado tenha mil coisas para buscar: a pátria, amigos, odores familiares,
melodias canções, um meio de expressão.
Ou, apenas um salgueiro.

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