domingo, 7 de julho de 1991

O romance romântico na América: Maria


            No Brasil, Maria foi publicado, em 1948, pelo Clube do Livro, oitenta  um anos depois de sua primeira edição, na Colômbia e quando o romance já havia tido, em espanhol, mais de cinqüenta edições, além daquelas clandestinas.

            O crítico argentino Roberto F. Giusti, ao exaltar em Maria as qualidades do romance romântico diz que, na América, somente Inocência do Visconde de Taunay a ele pode se igualar.

Embora concebido quando o Realismo já imperava nas letras francesas, o inocente e trágico e adolescente idílio de Maria e Efraim, certamente, se inspira nos autores pré românticos franceses e em Chateaubriand. Não somente em Atala, cujos traços são, claramente, discerníveis em Maria, segundo os críticos, mas, também no Gênio do Cristianismo. Uma leitura que emociona os personagens do romance colombiano, que os faz chorar e lhes alimenta uma religiosidade que bem justifica a edição das Paulinas que tornam a traduzir a obra que é, então, publicada, outra vez, no Brasil, em 1962. Religiosidade que traduz um cristianismo profundamente arraigado em Jorge Isaacs a conduzi-lo  à criação de um micro universo que, embora parte de uma sociedade escravagista, dela se afasta ao diluir as fronteiras que separam o senhor de seus escravos.

Na propriedade rural, sob as ordens  de um patriarca, o pai de Efraim, as relações dos membros da família com os escravos são perfeitamente harmoniosas. Nos momentos felizes – o casamento de escravos – a festa é concedida. Nos momentos dolorosos – doença e morte – oferecida a assistência médica e o consolo da religião católica.

Na pujante e bela natureza do vale do Cauca, amorosamente descrita por Jorge Isaacs naquele tom que, tantas vezes, aproxima os romancistas românticos de Rousseau, os homens são perfeitos. Apenas a fatalidade que se origina desse não conseguir viver longe do homem amado, desse não poder se afastar das ordens paternas é que irá truncar os destinos.

Jorge Isaacs – jornalista, agricultor, deputado, professor, soldado (quando necessário), poeta, dramaturgo e romancista – viveu, deve ter vivido, de maneira intensa, o cotidiano do Continente. Outro cotidiano, havia, porém, que ele não percebeu ou ignorou. Aquele das desigualdades, das opressões, das injustiças. Então, registrou um mundo em que os conflitos se aninharam, todos, nos corações amantes de Maria e Efraim.

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