Exatamente
no ano inicial da sétima década foi
premiada uma jornalista uruguaia na rubrica “Testemunho” da Prêmio Casa de las
Américas. Suas entrevistas e reportagens fizeram com que emergissem do
silêncio, vozes que a ele tinham sido condenadas.
Lamento
dos velhos que, trabalhando chegam ao fim da vida para terem direito a pensões
tão miseráveis que mal chegam para o alimento. Passividade dos
responsáveis ao ignorar os albergues de
crianças abandonadas que ali são depositadas como um pacote que logo é
esquecido. Apelo dos que, na prisão, são donos, apenas, de um ócio degradante
diante das oficinas de trabalho desativadas.
Seguem-
se as vozes dos que tentam lutar: os que partem para o exílio, os que fazem
greve para conservar seus direitos, os que ousaram, pela ação, aspirar
mudanças. Finalmente, a resposta do sistema com a prisão, a tortura, a morte
dos seus opositores.
Ao
todo, são treze textos. Entrevistas e reportagens que, a partir de indivíduos
marginais – o velho que junta papel, o adolescente analfabeto, o preso, a
criança que trabalha, o operário em greve ou os que “disseram chega” e
procuraram a saída na subversão – tentam mostrar um retrato do país que os donos do poder fazem de tudo para ocultar.
Maria
Ester Gilio fez o registro da miséria de muitos e das razões da luta de alguns
no momento em que coexistiam: uma criança de oito anos, apenas alfabetizada que
é obrigada a trabalhar, a atuação dos que não querem permitir que tal fato
continue a existir e a proliferar, optando pela agressão à injustiça
institucionalizada.

As
palavras que transcreve de uns e de outros, contundentes, expressam a realidade
que, no entanto, é negada pelos bens pensantes. Os que aceitam com naturalidade
que uma parcela da população seja
privada dos bens essenciais mínimos e vêem como perigosa transgressão os atos
que tentam mudar as estruturas sociais perniciosas para os deserdados.
Ao
escrever entre 1965 e 1970 o que, então, acontecia, Maria Ester Gilio quis
informar para transformar. Hoje, esses textos reunidos no livro La guerrilla
tupamara (Havana, Casa de las Américas, 1970) é um livro de História.
Verdadeiramente
lido, em todo o espaço do Continente, poderia, sem dúvida, levar à ação.
Porém, os que mais teriam
proveito com a sua leitura, são na sua maioria, analfabetos ou tolhidos pela
pobreza e suas seqüelas, privados do hábito da leitura. E de uma leitura, que
os donos do poder, com os seus sempre eficazes mecanismos de censura, certamente
não terão nenhum interesse em permitir.
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