Prêmio
Casa de las Américas, 1989, Maluco, la novela de los descubridores é o
primeiro romance de um uruguaio de quarenta e quatro anos que até então tinha
se dedicado, sobretudo, à crítica e ao ensaio.
Narrativa
feita em primeira pessoa por Juanillo Ponce, bufão que, obrigada pelas
necessidades, inscrevera-se na armada que partiu da Espanha, sob o comando de
Fernão de Magalhães para dar a volta ao mundo. Dos prodígios que viu, das
maravilhas e dos prazeres que o extasiaram, das fomes e das dores que sofreu
ele quer dar conta a Don Carlos V.
Não
como cronista – aquele que escreve para a glória de seu soberano – mas como
quem viveu com todo o seu ser os episódios que narra, Juanillo Ponce refaz o
navegar da nau Trinidad e das outras quatro que a acompanhavam, a Victoria, a
Santiago, a San Antonio e a Concepción desde que deslizaram pelo rio em busca
do mar-oceano.
Deixam
Sevilha para trás, costeiam as Canárias, se detém frente às costas de Serra
Leoa e como que eternamente, buscam no sul o caminho para chegar, outra vez, a
Sevilha.
Ao
partir, as margens do rio ofertam imagens de um mundo que apenas se move: são meninos
que pescam encarapitados nas velhas
pedras de uma ponte moura; são camponeses que, nas vinhas carregam cestos ou
que numa cuba pisam as uvas recém
colhidas; são mulheres de preto que se levantam da colheita para olhar os
barcos que passam.
As
mesmas imagens esperam pelos barcos quando eles regressam: os meninos estão lá
na ponte a pescar; com as cestas nas costas e as uvas sob os pés, lá estão os camponeses e, também, lá estão as
mulheres de negro a fitar o barco que, agora, desliza rio acima.
Desse
mundo estático, fugira Juanillo Ponce.
Os
olhos cheios de formas e de cores jamais vistas ( e pássaros vistosos e árvores
imensas); o olfato, rico de odores nunca imaginados ( o aroma adocicado da
terra); o coração repleto de conhecimentos da alma humana que as confidências geradas na solidão
lhe foram propiciando, ele volta. Para, outra vez, penetrar no estático, no
cristalizado Velho Mundo que condena os que não foram escolhidos por Deus e
pelo Rei à miséria e à fome.
Juanillo
Ponce dera volta ao mundo. Pobre, ele partira e, pobre, regressara. Para
constar, ele refaz com palavras, a viagem. E capitães e desconhecidos heróis
saem das sombras e os barcos adquirem vida e o mar é um personagem.
Publicado
pela Seix Barral de Barcelona,no ano passado, esta saga dos descobridores é mais
um capítulo da História do Continente que se escreve. Napoleón Ponce de Leon,
conhecedor do mar e dos homens, deles fez poesia, deles tirou verdades.
E,
contando coisas que aconteceram em 1519 ele transcende, disseram os jurados de
Havana, a recreação de uma época para elaborar um texto de profunda
significação contemporânea.
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