Juanillo
Ponce, filho bastardo e bufão, quando lhe morre o amo fica sem ter o que comer
e sem ter onde dormir. Então, ele se inscreve, como Bobo, na esquadra de
Fernando de Magalhães. E, ser o Bobo dessa espécie de pequena corte flutuante
era o que lhe competia. Foi o que fez e, assim, contando histórias picantes
para distrair os marinheiros, acredita ter feito tanto pela empresa do rei da Espanha
quanto a obstinação dos capitães.
Mas,
a solidão em que mergulharam os tripulantes das naves ao se ver em alto mar, os
medos e as tristezas, fizeram de Juanillo Ponce um confidente generoso,
disposto a ouvir e a aconselhar, eventualmente a inventar imagens para proporcionar
o consolo que lhe é pedido. As histórias que lhe contam, ele as insere na longa
carta, enviada ao rei Dom Carlos da Espanha, sobre os azares da expedição. Primeiro,
a história de Francisco. Tão maltratado vivia nesse ninho de grilos que era o
seu povoado e tão defendido foi, por Blas, que dele teve pena, que passa a
segui-lo por onde quer que vá. Também, o seguiu na aventura de se embarcar na
armada que recrutava gente para uma viagem de rumo desconhecido. Quando, no
meio do oceano, a névoa envolve a esquadra e diante da tripulação assombrada,
faz aparecer a visão de um navio à deriva, Francisco quis desvendar-lhe o mistério. Da caravela em que
estava entre os seus, pulou para a outra,
apenas vislumbrada da qual somente era possível perceber as velas em frangalhos,
o casco semelhante a esses troncos que flutuaram anos pelo mar e que, talvez só
existisse nas palavras que a descreviam. Francisco desapareceu na névoa, no mar
ou no interior da caravela real ou fantástica que o atraíra para um abismo
qualquer. Nele, não estaria pior que no povoado perdido onde nascera,
consola-se Blas, o seu amigo.
Outra
história que Juanillo Ponce conta ao rei é a do capelão da esquadra, Sánchez de
Reina, que sonhava ser Bispo. Cheio de entusiasmo, ele chega para se ocupar de
sua primeira paróquia: pobre e de pobres e simples filigreses cujos horizontes
não ultrapassam os limites do povoado. Já se acostumara, esquecendo os sonhos,
com a rotina dos sermões, com os
passeios ao entardecer, com as festas religiosas, sempre iguais. E era velho e
querido quando foi designado para acompanhar a esquadra. Lembrou-se da Catedral
de seus sonhos e partiu, deixando para trás seus paroquianos a lhe acenarem.
Napoleão
Baccino Ponce de Leon, o romancista
uruguaio Prêmio Casa de las Américas, 1989, seguindo a rota marítma de uma
travessia, a de Fernando de Magalhães, em 1519, se detém nesses destinos que a
História oficial ignora. Maluco, la novela de los descubridores
(Seix Baral, Barcelona, 1990) narra os grandes e os pequenos feitos dos homens
que suportaram tragédias e sofrimentos na busca desses caminhos para o
Continente.
Uma
epopéia dos mares em tom de balada.




