Diz
algum crítico que se trata de um livro autobiográfico. Alfredo Bryce Echenique
afirma que não: poucas pessoas são mais
diferentes da família de Julius do que a minha. Tais palavras talvez não
signifiquem, exatamente, uma negativa. Quando Ciro Bianchi Ross, ao
entrevistá-lo, pergunta se a sua narrativa é autobiográfica, ele se justifica: ainda que não seja verdade, acabei por
aceitar que meus livros sejam autobiográficos, enquanto não se prove o
contrário. Um mundo para Julius,
conta a história de um menino que certas coincidências aproximam do autor que o
criou: possuir uma sensibilidade que difere daquela que é usual da classe a qual pertence; voltar
o olhar para os outros, como aquelas
crianças de Roger Vailland em Beau
Masque cujo texto serve de epígrafe ao romance .
Julius
nasceu num palácio com jardins, piscina, cocheiras, quartos para os empregados
e uma pequena horta. Um tanto distraído, um pouco alheio, ele cresce,
cuidado por Vilma, meio branca, meio índia. A mãe, linda e
perfumada, o beija, rapidamente, entre
um partir e um chegar.O narrador anota os passos de Julius, suas alegrias e
tristezas, como anota esse mundo que o rodeia e que se compõe de tapetes,
cristais, flores e quadros e peças de prata .Embora vivendo num círculo fechado
que somente se comunica com outros círculos fechados, logo ele começa a
perceber o que lhe é escamoteado em nome
de valores que norteiam a vida familiar. Os mesmos valores norteadores de uma
elite que roça – somente porque deles necessita – os outros segmentos da
sociedade limenha, sem deles se inteirar, sem deles querer saber.
Julius,
menino, ao redor do qual não transitam outros interesses senão o das partidas
de golfe, dos banhos de sol, dos aperitivos, vai aprendendo a conviver com suas
perdas e com sua solidão. Entre os de sua classe, fantoches que se repetem e os outros, igualmente distantes porque
pobres, Julius deve bastar-se.
Um
aprendizado doloroso e sem respostas. E’assim que termina a história de
Julius, o drama de um menino rico que
tem onze anos e sente ao redor o vazio. Para
remediá-lo só um choro longo e silencioso, repleto de perguntas.
Alfredo
Bryce Echenique, peruano nascido em Lima no ano de 1940 neste seu primeiro romance escreve querendo respondê-las.
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