domingo, 3 de junho de 1990

A história de Julius

           Diz algum crítico que se trata de um livro autobiográfico. Alfredo Bryce Echenique afirma que não: poucas pessoas são mais diferentes da família de Julius do que a minha. Tais palavras talvez não signifiquem, exatamente, uma negativa. Quando Ciro Bianchi Ross, ao entrevistá-lo, pergunta se a sua narrativa é autobiográfica, ele se justifica: ainda que não seja verdade, acabei por aceitar que meus livros sejam autobiográficos, enquanto não se prove o contrário.  Um mundo para Julius, conta a história de um menino que certas coincidências aproximam do autor que o criou: possuir uma sensibilidade que difere daquela  que é usual da classe a qual pertence; voltar o olhar para os outros,  como aquelas crianças  de Roger Vailland em Beau Masque cujo texto serve de epígrafe ao romance .

            Julius nasceu num palácio com jardins, piscina, cocheiras, quartos para os empregados e uma pequena horta.  Um tanto  distraído, um pouco alheio, ele cresce, cuidado por Vilma, meio branca, meio índia. A mãe, linda e perfumada, o beija,  rapidamente, entre um partir e um chegar.O narrador anota os passos de Julius, suas alegrias e tristezas, como anota esse mundo que o rodeia e que se compõe de tapetes, cristais, flores e quadros e peças de prata .Embora vivendo num círculo fechado que somente se comunica com outros círculos fechados, logo ele começa a perceber o que lhe é escamoteado  em nome de valores que norteiam a vida familiar. Os mesmos valores norteadores de uma elite que roça – somente porque deles necessita – os outros segmentos da sociedade limenha, sem deles se inteirar, sem deles querer saber.

            Julius, menino, ao redor do qual não transitam outros interesses senão o das partidas de golfe, dos banhos de sol, dos aperitivos, vai aprendendo a conviver com suas perdas e com sua solidão. Entre os de sua classe, fantoches que se repetem  e os outros, igualmente distantes porque pobres, Julius deve bastar-se.

            Um aprendizado doloroso e sem respostas. E’assim que termina a história de Julius,  o drama de um menino rico que tem onze anos e sente ao redor o vazio. Para  remediá-lo só um choro longo e silencioso, repleto de perguntas.
 
            Alfredo Bryce Echenique, peruano nascido em Lima no ano de 1940 neste seu primeiro romance escreve querendo respondê-las.

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