São
os personagens de El hombre que trasladaba las ciudades, de Carlos Droguett, que troteiam em terras do
Continente antes de se iniciar o primeiro capítulo do romance. Um romance que
foi dedicado a Ernesto Che Guevara. Terminado no dia 22 de junho de 1969, a
Noguer de Barcelona o publicou em 1973.
É
construído em quatro partes, as quatro mudanças que sofreu a cidade de Barco
até ser, definitivamente, assentada com o nome de Santiago del Estero.
Antecedendo esses capítulo, após a dedicatória, três textos: o primeiro, muito
breve, define a história: uma história
louca porque a Espanha do século XVI
também era um ser louco; e essa história da qual o romance se nutre, é
a História
da Conquista da América, de certo modo, um romance picaresco: seus
personagens são aqueles aventureiros que a Espanha expulsou para que vencessem ou para que se destruíssem,
ainda mais, na América.
O
segundo texto possui um título, “Estos materiales” e oferece a chave do
romance: contar de uma cidade síntese, indeterminada, apesar das mesquinhas aparências dos conhecidos tijolos, das madeiras cheirando a bosque recém cortado
e poderá ser qualquer cidade, todas as
cidades desta América deforme,
atônita, maravilhosa e incompleta. Porque, se a narrativa se faz a partir de
datas, de fatos, de feitos, de espaços determinados e endossados pela História
Oficial, mais do que a História de Barco
ela é a História do Continente.
E,
antecedendo o primeiro capítulo, um terceiro texto. Nele, Carlos Droguett diz que seu personagem não será apresentado
com palavras que digam de sua estatura, das marcas que a vida lhe fez, mas com
as que apresentam seus estados de alma. Não será descrito na paisagem mas na luz e na sombra, nas nuanças dessa luz e
dessa sombra que o atravessam. Principalmente, ou unicamente, nas suas
inquietações e dúvidas e sofrimentos de conquistador.
Dom
Juan Núñez de Prado é o conquistador que permaneceu na sombra quatrocentos anos
para ter o seu retorno à vida decidido
pela ficção. Carlos Droguett o vislumbra na paisagem, o cabelo solto e liso, a cabeça loira e pálida, perdida,cansada.
Nem o vento soprava quando ele apareceu
sob as árvores. Alguns minutos depois, apareceram os outros, trotando para
alcançá-lo. Foi seu primeiro momento de
vida apanhado pelo romancista que, então, o conduz para a ficção. Junto com
seus capitães e seu duzentos soldados esfarrapados
e traiçoeiros, invade as terras do
Continente e delas quer a posse. Invernos e chuvas, verões de sol se
acrescentam aos dias que buscam a glória
ou a felicidade simples de uma pequena casa com jardim e pomar.
Nas
dores sofridas, doenças, fome, frio e nos sentimentos de ódio, medo e amizade
que experimentaram alguns a emergirem da
massa d’entre os que o acompanharam – outras tantas imagens símbolos – há uma
volta à vida. Concedida pela Arte, uma vida cuja duração não mais será medida
pelo nascer e pelo morrer, mas pela emoção que a leitura de uma obra de
impressionante beleza – e assim é feito
esse romance de Carlos Droguett – pode provocar.

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