Ele
chegou com toda a ingenuidade e pureza de intenções. Veio falando um espanhol
aprendido em Porto Rico ou por correspondência: nos momentos difíceis, aí está Batman.
Juana
Sommers, agente da FBI que fizera seu aprendizado nos corpos da Paz, sub-secretária
de relações públicas do primeiro
administrador dos capitais estrangeiros,
o recebeu emocionadíssima. Seu coração, embora dotado
de músculos de aço, se inflamou como se tivesse sito tocado pela bandeira
norte-americana flameando numa festa de formatura. Num helicóptero, fugindo dos jornalistas, ela o conduz para os
contatos profissionais necessários; depois, para outros mais íntimos.
Em
mansões com pistas de aterrissagem e
escadas de mármore, providas de corredores e portas secretas, em ambientes com
paredes de vidro transparente e luz estroboscópica, Batman tenta, seriamente,
entender para quem e em que momento deve lutar.
Entre
Juana Sommers, há sete meses sem apoio psiquiátrico, Willlie Morgan, o
inspirador econômico da Revolução Conservadora, ex-presos de Alcaraz e esquerdistas infiltrados no esquema de
segurança, o primeiro e maior problema de Batman foi a falta de respostas para
suas perguntas: quem eram no Chile, os
verdadeiros representantes da lei e da Ordem? Onde estava o inimigo?
Com
ou sem razão, acabou preso nas malhas de uma lei que não chegou a entender.
Apreenderam-lhe seus apetrechos de luta e num deles acharam um pouco de
cocaína. Como se isso não bastasse para deixá-lo aturdido, Batman deu-se conta
que o poderoso cidadão chileno a quem viera ajudar a dar um fim na “ditadura do proletariado” era um fora da
lei. Depois, tomou conhecimento que o estrangulador que ajudara a mandar para
Alcaraz, estava em liberdade e a serviço da CIA, mal passados cinco dos vinte
que deveria ficar na prisão. E, tão atônito que chegou a transpirar, ainda escutou
Juan Sommers explicando: Nós os
corrompemos com o seu próprio dinheiro e ocupamos seus países com seus próprios
exércitos porque precisamos dessas guerras parciais para que nossa economia não
perca o ritmo de crescimento.
Entrincheirado
na sua convicção – nós combatemos o
comunismo- só atinou a pensar que a sua visita a esse país democrático
tinha sido extemporânea. Ou tinha chegado cedo demais ou demasiado tarde. Seu
único grande feito acabou sendo o de
salvar uma jovenzinha de uma perseguição amorosa indesejável.
Do
Chile, só conheceu uma azulada lua minguante e um pedaço da cordilheira branca
de neve . E esses chilenos, empregados das grandes companhias
norte-americanas, gentílíssimos com seus patrões.
Partiu
para encontrar, como a secretária Juan Sommers, um destino inglório, fruto da
catarse do romancista.
Enrique
Lihn, poeta e contista chileno, escreveu essa história que chamou Batman no
Chile. Em junho de 1973, ela foi publicada pela Editora De la Flor, de
Buenos Aires. No dia 10 de setembro desse mesmo ano, era bombardeado o Palácio
de La Moneda em Santiago e assassinado o presidente Salvador Allende.

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