Jacques Stéphen Alexis nasceu no dia 22 de abril de
1922 em Gonaives, Haiti. Para fazê-lo desaparecer, em 1961, a repressão de seu
país não somente o cegou e matou mas fez com que até o lugar de seu túmulo
ficasse desconhecido. Onde repousam seus
ossos não há uma lápide. Mas, suas obras continuam-lhe a vida.
Seu primeiro
romance foi publicado em 1955, pela Gallimard de Paris: Compère Général Soleil.
Teve um reconhecimento unânime da crítica e dois anos depois, publicava Les
arbres musiciens e, em 1959, L’espace d’un cillement. Logo no
ano seguinte, seu primeiro livro de contos, Romancero aux étoiles. Ao
morrer, deixou dois romances inconclusos e um número muito grande de artigos, ensaios e textos
culturais e sócio-políticos.
Dez anos antes, ainda
estudante de medicina, havia iniciado um movimento revolucionário que iria
abrir caminho para as conquistas democráticas no seu país. No jornal La
Colmena, assinou, regularmente, uma
coluna que tinha por título “Carta a los
hombres viejos” onde incitava a juventude a manter-se combativa. Porém, mais
uma vez o povo haitiano havia arado no
mar, sintetizou Gerard Pierre Charles ao tratar da obra de Jacques Stéphen
Alexis porque, na década seguinte, o que fora conquistado desapareceria sob o
arbítrio e o escritor partia para o
exílio. Em Paris, se especializa em neurologia e se intensifica a sua paixão
pela escrita.
Neste ano de 1989, L’espace
d’un cillement completa trinta anos
de publicação. O título do livro é o
mesmo de seu último capítulo. Os anteriores são em número de cinco e cada um é
nomeado por um dos cinco sentidos: a
vista, o olfato, a audição, o gosto e o tato. As cinco moradas ( a palavra morada
antecede, em caracteres menores o título dos capítulos) serão habitadas por
Niña Estrellita e por Caucho. Uma mulher e um homem guiados por uma violenta
emoção que tem sua gênese num olhar, em muitos olhares e que se amplia e
aprofunda na satisfação de cada um dos
sentidos. Ambos estão imersos num mundo de torpezas e de delações, de
exploração do trabalho alheio e do vício do lupanar. A mulher, na plenitude de
sua feminilidade erótica e desvairada. O homem, consciente dos significados
sociais e da força do proletariado. Verso e reverso da medalha. Para se
encontrarem, Niña Estellita parte – como as prostitutas de Bizâncio – em busca
da recuperação moral pelo trabalho. Caucho, que a deseja como companheira,
acredita nessa reabilitação pois a sua crença no homem, como a do autor que o criou, é ilimitada. Sai no seu
encalço mas, já não a encontra. No seu quarto somente ficaram os moveis e uma
grande desordem. No bilhete, a razão de ter ido embora e o desejo de voltar uma
verdadeira mulher, digna dele.
Caucho tem certeza de que a irá encontrar e as
últimas linhas do romance atestam a sua esperança.

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