domingo, 8 de outubro de 1989

Certezas

            Jacques  Stéphen Alexis nasceu no dia 22 de abril de 1922 em Gonaives, Haiti. Para fazê-lo desaparecer, em 1961, a repressão de seu país não somente o cegou e matou mas fez com que até o lugar de seu túmulo ficasse desconhecido. Onde  repousam seus ossos não há uma lápide. Mas, suas obras continuam-lhe a vida.    

Seu primeiro romance foi publicado em 1955, pela Gallimard de Paris: Compère Général Soleil. Teve um reconhecimento unânime da crítica e dois anos depois, publicava Les arbres musiciens e, em 1959, L’espace d’un cillement. Logo no ano seguinte, seu primeiro livro de contos, Romancero aux étoiles. Ao morrer, deixou dois romances inconclusos e um número  muito grande de artigos, ensaios e textos culturais e sócio-políticos.

Dez anos antes, ainda estudante de medicina, havia iniciado um movimento revolucionário que iria abrir caminho para as conquistas democráticas no seu país. No jornal La Colmena,  assinou, regularmente, uma coluna  que tinha por título “Carta a los hombres viejos” onde incitava a juventude a manter-se combativa. Porém, mais uma vez o povo haitiano havia arado no mar, sintetizou Gerard Pierre Charles ao tratar da obra de Jacques Stéphen Alexis porque, na década seguinte, o que fora conquistado desapareceria sob o arbítrio e o escritor  partia para o exílio. Em Paris, se especializa em neurologia e se intensifica a sua paixão pela escrita.

Neste ano de 1989, L’espace d’un cillement  completa trinta anos de publicação.  O título do livro é o mesmo de seu último capítulo. Os anteriores são em número de cinco e cada um é nomeado por  um dos cinco sentidos: a vista, o olfato, a audição, o gosto e o tato. As cinco moradas ( a palavra morada antecede, em caracteres menores o título dos capítulos) serão habitadas por Niña Estrellita e por Caucho. Uma mulher e um homem guiados por uma violenta emoção que tem sua gênese num olhar, em muitos olhares e que se amplia e aprofunda na satisfação de cada um  dos sentidos. Ambos estão imersos num mundo de torpezas e de delações, de exploração do trabalho alheio e do vício do lupanar. A mulher, na plenitude de sua feminilidade erótica e desvairada. O homem, consciente dos significados sociais e da força do proletariado. Verso e reverso da medalha. Para se encontrarem, Niña Estellita parte – como as prostitutas de Bizâncio – em busca da recuperação moral pelo trabalho. Caucho, que a deseja como companheira, acredita nessa reabilitação pois a sua crença no homem, como a do  autor que o criou, é ilimitada. Sai no seu encalço mas, já não a encontra. No seu quarto somente ficaram os moveis e uma grande desordem. No bilhete, a razão de ter ido embora e o desejo de voltar uma verdadeira mulher, digna dele.

 Caucho tem certeza de que a irá encontrar e as últimas linhas do romance atestam a sua esperança.

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