E’
voz corrente que a mais brilhante contribuição do romance mexicano à Literatura
tem sido o romance da Revolução Mexicana cujo marco inicial é a publicação, em
1916, de Los de abajo, de MarinoAzuela. A ele se seguiram muitos outros
com características comuns: narrativas lineares e episódios onde os personagens
são apenas esboçados. Uma das mais conhecidas é Vamonos con Pancho Villa,
publicado em 1931, ano em que nenhum romance de alguma importância, publicado
no México, deixou de explorar o tema. Dez anos depois, seu autor, Rafael Muñoz
retorna ao assunto com Se llevaron el cañon para Cachimba.
Como
as demais obras cujo tema é a Revolução Mexicana, em Se llevaron el cañon
para Cachimba há, sobretudo, uma necessidade de contar como
aconteceram os fatos. O romance está dividido em quarenta pequenos capítulos e
cada um deles narra um episódio. No primeiro, o pai, que não suporta a idéia de presenciar outra
guerra civil, parte deixando seu filho de treze anos, encarregado de cuidar da
velha casa senhorial. Quatro dias depois, apenas extintos os ruídos de sua
carruagem a se afastar, sobrevém os gritos e golpes dos soldados que invadem a
casa e nela se instalam. Quando partem, o antigo criado fora morto
acidentalmente, as rosas haviam sido pisadas e arrancadas as cortinas vermelhas
com o fito de enfeitar cavalos.
Seguindo
a tropa – mal vestida, mal armada e à qual era preciso dar ordens aos gritos
porque não entendia o toque da corneta – sem saber para onde e nem porquê,
Alvaro Abasolo. E, parte da tropa, ele é o narrador das suas marchas e
contramarchas e das escaramuças e combates que empreende contra os federais, o
exército regular. Diante dele, vai-se desdobrando, vai-se estendendo a paisagem
do México: planícies, colinas, terra vermelha, branca, escura, as montanhas, os
areais. E o “mezquital’, arbusto do campo que ninguém planta e que se insinua
por toda parte e que jamais, como tantas árvores será assassinado pelo machado porque serve para muito pouco.
A
imensa tropa que vai se deslocando sem
nada respeitar ( atravessamos, para não
fazer desvios, uma plantação de milho
que estava começando a verdejar; não sei como ficou depois de nosso ultraje) é, para o olhar do jovem
narrador, somente um amontoado de soldados. Deles, se destaca apenas, o General
Marco Ruíz. Seu rosto quase sempre impassível,
suas dúvidas e suas certezas. É a ele que Alvaro Albasolo segue ao
endossar a divisa “colorada”. Tinha treze anos e a cor o agradou: Era a nossa cor de luta, cor de coragem, cor
de chama. Provavelmente, nenhum outro tom
do arco-íris tivesse me impressionado
melhor; nenhum outro tão dominante, tão decisivo, tão forte. A cor, mais do que outra coisa, acabou de me conquistar: senti orgulho de ser “colorado”. Escolha que o levará às intermináveis marchas sob o
sol, às horas de sede, às noites sem dormir. Só depois do batismo de fogo e de
ter recebido autoridade para ordenar um fuzilamento é que ouvirá as razões do
general Marco Ruiz: A revolução é algo
mais, algo tão grande que nos mostra os homens em toda a sua insignificância: é
o inconformismo do povo com sua miséria. Quatrocentos anos trabalhando para
receber como pagamento a fome que o enerva, que o enfraquece, que o esgota: a
fome, uma ponta de ferro enfiada no ventre. As gerações nascem e morrem com
fome sem nunca ter se fartado. Até que
se arrancam do ventre aquele ferro que
nas suas mãos se converte em arma para lutar contra seu inimigo. Isso é a
Revolução.
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