Em
El hombre que trasladaba las ciudades, Carlos Droguett conta uma
história que pertence à História Oficial : a fundação da cidade de Barco, em
1550, por Juan Núñez de Prado. Uma cidade que, ameaçada de invasão inimiga,
vítima das obsessões de seu fundador, foi condenada a quatro mudanças antes de
seu assentamento definitivo, três anos depois, então com o nome de Santiago del
Estero.
Um
punhado de homens, sonhadores, aventureiros, a fizeram e desfizeram. Carretas e
índios a transportaram sob o sol e a chuva. No Continente que ia sendo rasgado,
lutas e trabalhos árduos marcavam o caminho de um sonho: erguer uma cidade para
o futuro.
Solidão,
atos oriundos de dúvidas, certezas pregadas sem fé, num mundo masculino.Nele,
distante, imagem efêmera, a mulher.
Juan
Núñez de Prado a vislumbra, por momentos. Índias nuas à beira do rio; índias
rindo, envoltas em seus cabelos; índias massacradas pela invasão dos brancos.
Ou, diluídas figuras de uma noite de amor no Velho Mundo.
Na
América, absorto na realidade que busca ( o traçado das ruas, o quartel, a casa
do bispo, a prefeitura, o lugar onde o dízimo será cobrado, a mansão de verão
para o Vice-rei) se insere a desejada presença feminina. Juan Núñez de Prado a
quer urgente e necessária. Para que haja crianças, crianças filhos dos arroios ou dos salões, para
que surja, enfim, uma cidade, uma bela
cidade, um belo sonho realizado.
Então, as sacadas se encherão de flores, atrás dos postigos se escutarão
suspiros e risos abafados, barulhos leves de saias descendo as escadas.
Verdadeira
imagem luminosa, contrapondo-se à miséria do presente feito das chuvas, dos
pedaços da cidade se perdendo na trilha das carretas, dos homens feridos e
maltratados.
Nas densas páginas de El
hombre que trasladaba las ciudades reina o homem. O seu pensar, o
seu fazer, o se sentir. Na ilusão que o faz persistir na aventura da conquista,
a visão do feminina extrapola o imaginado erotismo dos gestos (desprender de
cabelos, soltar de botões), os adivinhados anseios ( enrubescer entre
sustos, alvoroçar dos choros) para ser presença feita do agitar de anáguas.Ou, da imagem fugidia
que fixa um riso, um olhar, de algo inimaginável que se desprende de seus
cabelos, de seu avental. Prosaicamente cotidiana ao pertencer a um universo em
que a acompanham o cacarejo das galinhas, o cheiro da terra semeada. E,
verdadeiramente, apenas, no sonho de Juan Núñez de Prado. Pois se desfaz como
se desfez a cidade que ele desejaria ter criado.
Ambições
se sobrepujaram à sua. Preso, Juan Núñez de Prado partiu de Barco que foi, só
então, definitivamente, assentada. Outro fora o vencedor.

Nenhum comentário:
Postar um comentário