Na
imensidão do Continente, na imensidão de suas tragédias, a presença desmedida
de León Lozano, alcunhado O Condor, chefe poderoso de uma turba que, obedecendo
ordens do Partido Conservador, durante meses e com o objetivo específico de
neutralizar eleitores do Partido Liberal, assassinou quase todos os habitantes
de Tuluá, uma cidade da Colômbia.
Oriundo
de gente humilde, conseguira um pequeno mas confortável lugar ao sol.
Extremamente religioso e fiel a seu partido político, de repente, se vê alçado, no seio desse Partido à
liderança de uma função repressiva. Função
que exerceu com eficácia e, em Taluá, instalou-se o signo da morte.
Foram centenas de mortos a povoar o cemitério. Nos primeiros, balas na nuca;
nos demais, facadas, pauladas, amputações. A medida que tais mortes foram
ficando impunes pelo governo, silenciadas por uma imprensa censurada, passaram a ser realizadas, não
apenas à noite, como no início, mas a
qualquer hora e em qualquer circunstância sem pejo dos cadáveres atirados nas calçadas
da cidade.
É
esse o assunto de Condores no entierran todos los dias, um romance do
colombiano Gustavo Alvarez Cardeazábal que, até 1984, já havia alcançado quinze
edições legais e umas dez edições piratas. Um livro concebido como obra de
ficção, embora muitos de seus personagens tenham os nomes dos que semearam o
terror nas ruas da cidade ou dos que acabaram no cemitério. Não fiz mais que o tradicional ofício do
romancista que recria a realidade em que
vive ou que lhe atormenta as
lembranças. Na verdade, o que
Gustavo Alvarez Cardeazábal registra são fatos que aconteceram em Taluá durante
os cinco anos em que esteve sob o domínio de O Condor. São fatos que não
estariam distantes do inacreditável. Um inacreditável que é cotidiano no
Continente.
León
Maria Lozano, prestando-se a ser um
instrumento do Partido Conservador, embora sem portar armas e sem
admitir o assassinato de mulheres, sem jamais ter, ele próprio executado quem
quer que seja, é aquele cujo olhar de
mula cansada não lhe permite perceber o que, realmente, está ajudando a
destruir. Taluá vai sendo despovoada. Nas montanhas que a cercam, também se
instalou o êxodo e nas pequenas cidades vizinhas, a vida terminou languidamente. O
destino de todos estava pendente dos bilhetes que, em letras góticas, fixavam a
data da execução: quarenta e oito horas, uma semana, um mês. Ou o destinatário
se submetia a sua sorte ou abandonava
terras e bens para superpovoar as cidades grandes com seus rostos entristecidos, marcados
para sempre com o signo do terror.
O narrador vai contando os disque-disques dos personagens, vai ordenando os
episódios que irão formar a terrível crônica da violência que ele se propõe
narrar com uma acumulação de invenções.
E o romance que pretendia escrever,
transformou-se, a sua revelia, num livro que narra parte da História de seu
país.
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