domingo, 5 de fevereiro de 1989

Manilha de espada

            Manilha de espada foi publicado pela Philobiblion do Rio de Janeiro, em 1984. É um pequeno livro de contos do gaúcho Sérgio Faraco que iniciou sua vida literária em 1970, publicando Cadernos do extremo Sul. Presente em várias antologias nacionais e em revistas da América Latina e da Europa teve, também, um livro publicado pela Criar de Curitiba.

            Quatro dos contos de Manilha de Espada se ambientam na cidade. Nela, um velho homem, um ex-presidiário, uma prostituta, uma criança abandonada. Pessoas que, na solidão, em buscas e desencontros, procuram um espaço. Os demais contos, os cinco primeiros, se inscrevem no ambiente rurual: campo, galpão, rancho, casa de pensão de uma cidade minúscula. Os personagens se adensam e a linguagem se enreda em expressões da fronteira  -  o autor nasceu em Itaqui – e em imagens  que lembram a rudeza e a espontaneidade de uma natureza não domada. Os personagens também procuram sobreviver e rodeados de um amplo espaço, paradoxalmente, dele são prisioneiros e só podem efetuar a busca da sobrevivência na marginalidade.

            Vivendo num rancho no meio do campo, entre o pai e o irmão, Aninha se entrega ao primeiro homem que chega no rancho, traçando, assim, um destino que só pode ser o da prostituição. Para sobreviver, Pacho e Maidana roubam o que bem pouca falta irá fazer ao proprietário dos campos mas o preço do roubo poderá ser a própria vida. É a eterna dicotomia entre o que possui, no caso o proprietário que agranda os seus campos por meios escusos, e o que mal apanha as migalhas da riqueza – algum avestruz, algumas lontras – como se só os abastados pudessem comer, dormir e ter família.

            Em “Manilha de espada”, conto que dá o título ao volume, um forasteiro melenudo chega na casa de pensão de um povoado. Senta-se para jogar com o dono da pensão, o comissário de polícia e o cabo da brigada. Na verdade, são três contra um. Os do lugar, combinados para roubar o forasteiro   que aceita, impassível, o resultado do jogo – um truco do Rio da Prata. Mais tarde, utiliza suas próprias regras para obter a desforra, então, sangrenta.

            Uma galeria de personagens que descendem do gaúcho que lutou na conquista do território sem se preocupar em saber a quem pertencia a terra conquistada. Permanecendo à margem das riquezas e das mudanças econômicas e sociais, irão atuar como marginais. Sem trabalho, vivendo de expedientes, roubando e matando.

            Mas, eles irão guardar alguma noção de justiça e uma coerência com as próprias verdades que emergem, espontâneas e como que eclipsadas pelas  leis que as  determinam,  como condenáveis Entre valores que perdem seus contornos e valores que apesar de tudo, ainda permanecem, as narrativas de Maniha de espada voltam-se, muitas vezes, para esse personagem de heroísmos antigos.

            Talvez lembrança nostálgica de temos idos, talvez anseio de ver, novamente, instaurados, nesses dias de desesperanças, os idéias que eles representavam. 

                                                           Em  Canela, janeiro de 1989

 

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