Manilha de espada
foi publicado pela Philobiblion do Rio de Janeiro, em 1984. É um pequeno livro
de contos do gaúcho Sérgio Faraco que iniciou sua vida literária em 1970,
publicando Cadernos do extremo Sul. Presente em várias
antologias nacionais e em revistas da América Latina e da Europa teve, também,
um livro publicado pela Criar de Curitiba.
Quatro
dos contos de Manilha de Espada se
ambientam na cidade. Nela, um velho homem, um ex-presidiário, uma prostituta,
uma criança abandonada. Pessoas que, na solidão, em buscas e desencontros,
procuram um espaço. Os demais contos, os cinco primeiros, se inscrevem no
ambiente rurual: campo, galpão, rancho, casa de pensão de uma cidade minúscula.
Os personagens se adensam e a linguagem se enreda em expressões da
fronteira - o autor nasceu em Itaqui – e em imagens que lembram a rudeza e a espontaneidade de uma
natureza não domada. Os personagens também procuram sobreviver e rodeados de um
amplo espaço, paradoxalmente, dele são prisioneiros e só podem efetuar a busca
da sobrevivência na marginalidade.
Vivendo
num rancho no meio do campo, entre o pai e o irmão, Aninha se entrega ao
primeiro homem que chega no rancho, traçando, assim, um destino que só pode ser
o da prostituição. Para sobreviver, Pacho e Maidana roubam o que bem pouca
falta irá fazer ao proprietário dos campos mas o preço do roubo poderá ser a
própria vida. É a eterna dicotomia entre o que possui, no caso o proprietário
que agranda os seus campos por meios escusos, e o que mal apanha as migalhas da
riqueza – algum avestruz, algumas lontras – como
se só os abastados pudessem comer, dormir e ter família.
Em
“Manilha de espada”, conto que dá o título ao volume, um forasteiro melenudo
chega na casa de pensão de um povoado. Senta-se para jogar com o dono da
pensão, o comissário de polícia e o cabo da brigada. Na verdade, são três
contra um. Os do lugar, combinados para roubar o forasteiro que aceita, impassível, o resultado do jogo
– um truco do Rio da Prata. Mais tarde, utiliza suas próprias regras para obter
a desforra, então, sangrenta.
Uma
galeria de personagens que descendem do gaúcho que lutou na conquista do
território sem se preocupar em saber a quem pertencia a terra conquistada.
Permanecendo à margem das riquezas e das mudanças econômicas e sociais, irão
atuar como marginais. Sem trabalho, vivendo de expedientes, roubando e matando.
Mas,
eles irão guardar alguma noção de justiça e uma coerência com as próprias
verdades que emergem, espontâneas e como que eclipsadas pelas leis que as determinam, como condenáveis Entre valores que perdem seus
contornos e valores que apesar de tudo, ainda permanecem, as narrativas de Maniha de espada voltam-se, muitas
vezes, para esse personagem de heroísmos antigos.
Talvez
lembrança nostálgica de temos idos, talvez anseio de ver, novamente, instaurados,
nesses dias de desesperanças, os idéias que eles representavam.
Em Canela, janeiro de 1989
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