Tzompatecuhtli: Não nos deixastes outra liberdade, senhor. (Carlos Fuentes)
Em
Todos los gatos son pardos, Carlos
Fuentes concede voz a Montezuma. Autoridade suprema, deus, sol, ele decide a
sorte do Império asteca e dispõe da vida de seus súditos.
Ao
nascer, outra vez, para o rito teatral, ele se humaniza pelo medo e pela dúvida
que nele se instalam e que irão despojá-lo do poder e conduzi-lo à derrota. O
medo que sente é de si mesmo; as dúvidas, nutridas pelos deuses. Entre as
ordens que deles recebe (ou lutar ou pacificar) , entre ser vítima ou verdugo
Montezuma verbaliza o que deveria continuar a ser silêncio: O que seríamos sem nossos trajes senão dois coitados idênticos a todos os coitados do
reino?, pergunta a um de seus deuses. Ou hesita na escolha do deus a quem
deve servir: seja com a paz ou com a guerra, seja com a palavra ou com a ação.
Também
pululam idéias e queixas e críticas a seu redor. Na base da pirâmide social há
quem duvide das verdades atribuídas aos deuses, inventadas para legitimar
privilégios. A sua volta, há quem entenda que tais verdades podem ser injustas;
ou quem tenha visto alguns poucos se apropriando de muito; ou, ainda, quem
infeliz, sonhe com a paz, com a amizade, com o trabalho.
São
mil desejos de coisas impossíveis que se opõem à vontade do rei.
Então,
do outro lado do mar vieram os homens
brancos: vestidos de prata ou rocha,
deles vendo-se, apenas, o rosto e o rosto era branco e os olhos garços e os
cabelos vermelhos e as barbas longas.
Foram
ajudados pelas dúvidas que pairavam no Império, pelos desconsolos de muitos,
pela crenças nas profecias. Traziam, também, para defender seus privilégios,
verdades divinas. Em nome delas, implantaram suas leis.
Os
homens do Continente continuaram submissos.
Todos
os gatos são pardos, resumiu Carlos Fuentes ao dar título a sua peça. Uma peça
que, escrita, em 1970, até hoje, nunca foi montada.
Em Canela, janeiro de 1989.

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