A
propósito da publicação de O século do
vento, terceiro volume da trilogia Memórias
do Fogo de Eduardo Galeano, Emir Sader na revista Senhor , número 375 de 30 de
maio de 1988, fala dessa situação
incongruente que é a ignorância cultivada pelos
brasileiros em relação ao restante da América Latina. Constatação que
pode ser entendida por alguns: aqueles, poucos, cujas condições financeiras e
culturais permitem um interesse não restrito apenas às questões de
sobrevivência que afligem a maioria dos brasileiros.
No entanto, esse desconhecimento que
os latino-americanos mantém a respeito de seus vizinhos, que tanto pode ser
fruto de ignorância como de um desinteresse originada de interpretações ainda
presas a uma visão de mundo colonizada – irá levar a determinadas opções e ao
endosso de outras, por vezes, alienígenas. Se informações sobre o que se passa na
América Latina fossem divulgadas, se houvesse o hábito de refletir sobre o
significado dos acontecimentos, sem dúvida, tais posicionamentos poderiam
deixar de ser indiferentemente passivos e, inclusive, passar a ser
reformuladores.
Com
o desconhecimento do que se passa na América Latina devido, sobretudo, a um sem
número de obstáculos, continua o Novo Mundo a receber, quase sempre,
informações através de agências noticiosas de outros continentes que,
obviamente, decidem o quê e o quanto deve ser divulgado..
Tal
situação torna explicável a criação do “Movimento América : 500 anos de
conquista” ter sido dado a conhecer no Brasil um ano depois de ter sido criado,
em 1986, na Itália. Nesse Movimento se insere o projeto de trabalho “12 de
outubro de 1992: 500 anos de conquista
da América” que se constitui uma proposta de reflexão sobre o real significado
da descoberta do Novo Mundo. Novo Mundo
que já possuía, em 1550, quarenta mil anos de História e com uma imensa população que os chamados
civilizados, no intuito de efetivar o assim chamado ato civilizatório,
reduziram à terça parte. Nesse Projeto estão envolvidos quarenta e dois países
d as Américas e da Europa, inclusive o Brasil cujo Comitê, estabelecido em
Campinas, divulgou suas linhas gerais numa revista trimensal, publicada pela
Editora Ícone que dará guarida aos
trabalhos inseridos no Projeto, guardando no título a idéia primeira: América
latina: 500 anos de conquista.
No
seu primeiro número, foram publicados oito trabalhos assinados por Paulo San
Martin, Eduardo Galeano, José Luiz Del Rio, Rodrigo Andréas Rivas, Florestan
Fernandez, Rodrigo e Doroti Schwade e Martinho Lutero . Seu denominador comum
poderia ser resumido no título de Eduardo Galeano: “Direito dos povos e direito
à vida”, pois em cada um deles se assinalam as mortes e as destruições
inscritas na história do Continente para alimentar a sanha e a cobiça dos
conquistadores.
Palavras
mais do que nunca necessárias nesse Continente – excetuando Cuba e,
esporadicamente um outro espaço – conduzido por interesses sempre estanhos e
escusos ao desconhecimento de si mesmo, das próprias forças e mesmo das
próprias fraquezas.
Quando
vozes se alçam para louvar a descoberta é, também, sobremodo importante que se alçam as que irão quebrar um silêncio
que, ao contrário, continuará a pairar sobre os heróis e os mártires que não se
inscrevam na História oficial.
O
projeto Äméica Latina: 500 anos de conquista abre um caminho. Aqueles que
rejeitam as trilhas conhecidas poderão optar por ele. O momento é, sem dúvida,
mais do que nunca propício para que a História da América seja escrita a partir
de um outro foco narrativo.

Nenhum comentário:
Postar um comentário