Isolados
uns dos outros por razões que, muitas vezes, eles próprios desconhecem, os
países latino-americanos só, excepcionalmente, chegam a conhecer a produção
literária de, pelo menos, seus vizinhos. Uma produção literária que seria de
valiosa leitura não apenas por espelhar destinos comuns, mas, principalmente,
porque possui peças literárias de raro valor.
No
entanto, elaborada num mundo conturbado, quase sempre profundamente enraizada
num cotidiano de lutas, trata-se de uma produção literária que somente poderá
ser perfeitamente mensurada se inserida no contexto no qual foi criada ou do qual se originou. Um pressuposto que, em
princípio, deve ser válido para qualquer texto literário que se examine, pois,
do contrário, o estudioso do século XX estará muito próximo do estudioso
medieval que discute, entre quatro paredes, conceitos abstratos enquanto lá
fora a população é dizimada pela peste e pela fome. E, mais, ignorar o contexto no qual a obra é
gerada, ainda que seja em territórios onde seja possível viver sem presenciar a
miséria e a opressão do indivíduo, conduz a reduzir, consideravelmente, as
possibilidades de apreendê-la no seu todo. Na América Latina é, inclusive,
eludir responsabilidades pois a miséria e a opressão se constituem uma presença
constante.
Fugir às posições lúdicas ou estereotipadas que tem sido o apanágio – abstraindo-se as sempre honrosas exceções – de muitas instituições universitárias representa, na área dos estudos literários, enfrentar a mais difícil das opções: assumir a realidade vigente. Parece que os muitos anos de existência e contar entre seus quadros com elementos que se constituem – queira-se ou não – a elite do saber apenas reafirmou a trilha a seguir: estar a serviço das classes dominantes, impedindo-se de ver o que acontece a seu redor e constatar as incongruências que ali reinam. E que, finalmente tudo se resuma em, tradicionalmente, confirmar que além da na análise dos textos, nada mais compete fazer.
Na
verdade, a América Latina segue seu caminho de violências e tiranias regidas
por boas consciências que se auto-justificam ou se inter-justificam em
palavreado repetido através de gerações a
confirmarem privilégios e desfavores. E os textos elaborados no compromisso com
o ser humano – que são tantos e de tão grandes qualidades – exigem, certamente,
uma leitura que não ignore os destinos do homem latino-americano e, sobretudo,
que permita ou que leve a uma reflexão sobre ele.
Porque
as injustiças em nome de antigas verdades, a violência no relacionamento entre
as classes, a fome, a doença, o analfabetismo não devem ser de responsabilidade exclusiva dos
dirigentes de um país, mas de todos os
seus cidadãos. E sempre.

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