Escrito por uma
mulher latino-americana há mais de vinte anos, Ofício de Tinieblas
(Ofício de trevas) publicado pela Joaquín Mortiz do México, é um livro onde se entrelaçam o romance e a crônica para falar desses dois
mundos que se opõem e que, para Rosário Castellanos, é o mundo do branco e do índio, do domínio e da passividade. Em Oficio de Tinieblas, mundos que se fecham
numa sociedade urbana, a da Cidade Real, corrompida por valores
tradicionalmente falsos e a de Cholula, povoado indígena que, aos poucos, vai
sendo destruído pela substituição de verdades impostas. São espaços em que se
estabelecem as relações de trabalho, de propriedade, sociais, afetivas ou idiomáticas
que são, mais do que nada, marcados pela hierarquia ditada pelo mais forte o
que justifica a exploração, a expropriação e até a posse do corpo e o direito
de vida e de morte. Uma hierarquia na qual, o personagem branco ou índio,
dominador ou dominado será prisioneiro de sua condição social e de suas
relações familiares, condenado a uma solidão que aceita por não ser capaz de
refutar as leis que lhe são outorgadas.
Aproximar-se,
então, do personagem feminino de Oficio
de tinieblas é inevitavelmente,
aproximar-se de um mundo dividido entre brancos e índios, entre os que
trabalham e os que não trabalham, entre os que possuem ( o poder, a riqueza, um nome de família ou,
simplesmente, uma posição social definida) e os que nada possuem.
Das
personagens femininas com estatuto, cinco são brancas e cinco são índias. Das
brancas, ocupando-se do trabalho
doméstico, trabalham três. Quanto às índias, ou no seu povoado ou na cidade,
todas trabalham pela sobrevivência. Na estrutura familiar, ou mãe, esposa,
amante, filha, irmã elas repudiam o papel que lhes cabe tradicionalmente e
se demonstram amor, ele será doentio, o
amor que sacrifica a quem ele se dirige . Protegidas por um bom nome de família
ou por uma situação econômica privilegiada
ou relegadas à pobreza, são mulheres que se refugiam na solidão. Ou falam consigo mesmo ou diante do interlocutor
mascaram o pensamento, tornam-se reticentes ou se calam.
Sempre,
uma incapacidade de expressão que, mais do que traço determinante do personagem
significa a sua inserção num universo de silêncio no qual poucas vezes a voz que se levanta é
uma voz feminina. Mesmo que seja de
mulher branca, mesmo que seja de mulher pertencente à classe dominante.
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