No
Brasil, jamais foi mencionado. Como, sempre, na França já traduzido e seu livro de contos Las hortênsias, publicado com um prólogo de Julio Cortazar. Na
Itália, Nadie encendia las lámparas apareceu com apresentação de
Ítalo Calvino. Durante anos, Felisberto
Hernández ganhou sua vida humildemente, acompanhando ao piano a projeção de
filmes mudos em excursões artísticas pelo interior do país ou em modestas
funções burocráticas.
Autor
de uma prosa que se adiantou no tempo, o uruguaio Felisberto Hernández, nos
seus primeiros contos, parecia ter uma vocação memorialística pois eles estavam
permeados de fragmentos biográficos e de reminiscências de Montevidéu dos anos
vinte. Assim, por exemplo, seu livro Por
los tiempos de Clemente Colling. Seguiriam outros caminhos suas obras
posteriores. Afastam-se da evocação direta para descobrir uma dimensão do
imaginário ao qual o mundo narrativo se elabora num complexo tecido: emaranhado
de meadas de experiências pessoais e de um modo próprio de enxergar o real.
Ao
apresentar El caballo perdido y otros
cuentos, José Pedro Díaz enfatiza esse
“redescobrir da realidade”, esta capacidade de “descobrir o excepcional
no cotidiano”.
Em
Felisberto Hernández, trata-se, sem dúvida, do real. Mas um real do dia a dia
que adquire expressões inusitadas. Objetos que surgem inesperadamente, como
algo estranho para, em seguida, apresentarem a mais sensata das presenças. Assim
acontece com um personagem sentado no banco da praça. De repente, quase perto dele, sente um pano molhado.Na verdade, era uma grande
folha de plátano cheia de umidade. Objetos que se aproximam do humano quando o
olhar neles pousado percebe semelhanças: portas de vidro que davam a impressão de serem damas decotadas. Tinham cortinas muito leves e parecia que haviam sido
surpreendidas com roupa de baixo. Ou, objetos que passam a fazer parte do viver
cotidiano numa presente relação afetiva: a sacada é a maior amiga da personagem
colecionadora de sombrinhas. A boneca Hortência é amiga, é filha, é amante. E,
também o terceiro elemento de um triângulo amoroso.
Presenças
inanimadas a ocuparem um espaço
pertencente aos humanos que
nesses desejos de dar vida às coisas, nessas buscas de outras realidades
permitem descobrir a extrema solidão em que estão enclausurados.
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