domingo, 19 de julho de 1987

Loreina Santos-Silva e a poesia do mar

            Por vezes, Loreina Santo-Silva pode ser a ativa Presidente do Primeiro Congresso de Criação Feminina, realizado na Universidade de Puerto Rico em 1979           e, ainda, ter a coragem de realizar o Segundo Congresso, ampliando-o para as mais diversas áreas como esse que será realizado em novembro próximo. Muitíssimas vezes, de sua Cátedra na Universidade de Mayaguez, ela discorre, com paixão, sobre Literatura. Mas, essencialmente e sempre, Loreina Santos-Silva é uma poetisa. Uma poetisa apaixonada, inquieta, voltada para a vida e para o sentir humano. E, nunca, esta sua faceta se mostrou com tanta força como no seu último livro de poemas Vocero del mar, expressão dos  pescadores, vozes que, por razões que tão bem conhecemos, dificilmente terão condições de ser ouvida. Loreina Santos-Silva lhes deu  a sua voz ao fazer suas as palavras dos pescadores portorriquenhos o que ela, aliás, deixa bem claro ao explicar o processo criativo desses versos: Devo reconhecer que o estilo do livro Vocero del mar é tanto meu quanto dos pescadores. Isto poderá ser comprovado na transcrição do diálogo e do poema (o segundo do livro) que dele surgiu.. O tema do primeiro, a poetisa narra com suas próprias palavras a conversa com o pescador  e quanto à fonte dos demais  ela é referenciada em notas ao final do livro. Porque toda matéria poética de Vocero del mar nasceu de um diálogo diante do mar que a poetisa manteve com os pescadores. O relato que escutou ficou a se agitar na sua cabeça e ela decidiu recolher os pedaços de vida, de histórias das pelejas com as águas. Para isso vai até os povoados  para esperar o  regresso da pesca e, então, fala com aqueles que julga mais representativos, os mais antigos na arte da pesca. Saturada de suas narrativas, espera que o poema aflore. 

            Vocero del mar contém quarenta e um poemas. Vinte e nove têm origem  em entrevistas com os pescadores que são citados nominalmente em nota a cada poema. A fonte dos outros doze são relatos ou lendas contadas coletivamente. Assim é o milagre dos peixes que se repete, é a visão de objetos fosforescentes e estranhos, a morte de um  pescador, a loucura da mulher para quem o mar devolve o marido morto e a espera de um cão pelo dono que não volta.

            No todo, como que a dialética do homem e do mar. Um mar imenso, fonte de vida ao oferecer seus frutos e razão de morte ao ganhar a batalha travada pelo homem pela sua sobrevivência. Um homem-herói ao voltar com as redes cheias; vítima quando chega arrastado, atirado na areia. Subjacente, a dialética da voz primeira, recriando a experiência vivida com a voz que está vivendo o momento criativo.

Ai! o cão! como ele olha / a onda de mar adentro / que se arrima até a beira! / O dono no turbilhão /
perde o hábito de vida... / Ai! o cão! Como ele olha! / Já não lembra aquele barco / que se fora mar adentro / como um peixe  à deriva.../ Já não recorda uns olhos / Reflexo em suas pupilas.... / Ai! o cão! Como ele olha! / Corpo e alma empedrados / procuram no horizonte / de amor e ânsia de espiga / e uma lágrima de sal / ainda lhe treme nas pupilas...

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