Por
vezes, Loreina Santo-Silva pode ser a ativa Presidente do Primeiro Congresso de
Criação Feminina, realizado na Universidade de Puerto Rico em 1979 e, ainda, ter a coragem de realizar
o Segundo Congresso, ampliando-o para as mais diversas áreas como esse que será
realizado em novembro próximo. Muitíssimas vezes, de sua Cátedra na
Universidade de Mayaguez, ela discorre, com paixão, sobre Literatura. Mas,
essencialmente e sempre, Loreina Santos-Silva é uma poetisa. Uma poetisa
apaixonada, inquieta, voltada para a vida e para o sentir humano. E, nunca,
esta sua faceta se mostrou com tanta força como no seu último livro de poemas Vocero del mar, expressão dos pescadores, vozes que, por razões que tão bem
conhecemos, dificilmente terão condições de ser ouvida. Loreina Santos-Silva
lhes deu a sua voz ao fazer suas as
palavras dos pescadores portorriquenhos o que ela, aliás, deixa bem claro ao
explicar o processo criativo desses versos: Devo
reconhecer que o estilo do livro Vocero
del mar é tanto meu quanto dos
pescadores. Isto poderá ser comprovado na transcrição do diálogo e do poema
(o segundo do livro) que dele surgiu.. O tema do primeiro, a poetisa narra com
suas próprias palavras a conversa com o pescador e quanto à fonte dos demais ela é referenciada em notas ao final do
livro. Porque toda matéria poética de Vocero
del mar nasceu de um diálogo diante do mar que a poetisa manteve com os
pescadores. O relato que escutou ficou a se agitar na sua cabeça e ela decidiu
recolher os pedaços de vida, de histórias das pelejas com as águas. Para isso
vai até os povoados para esperar o regresso da pesca e, então, fala com aqueles
que julga mais representativos, os mais antigos na arte da pesca. Saturada de
suas narrativas, espera que o poema aflore.
Vocero del mar contém quarenta e um
poemas. Vinte e nove têm origem em
entrevistas com os pescadores que são citados nominalmente em nota a cada
poema. A fonte dos outros doze são relatos ou lendas contadas coletivamente.
Assim é o milagre dos peixes que se repete, é a visão de objetos fosforescentes
e estranhos, a morte de um pescador, a
loucura da mulher para quem o mar devolve o marido morto e a espera de um cão
pelo dono que não volta.
No
todo, como que a dialética do homem e do mar. Um mar imenso, fonte de vida ao
oferecer seus frutos e razão de morte ao ganhar a batalha travada pelo homem
pela sua sobrevivência. Um homem-herói ao voltar com as redes cheias; vítima
quando chega arrastado, atirado na areia. Subjacente, a dialética da voz
primeira, recriando a experiência vivida com a voz que está vivendo o momento
criativo.
Ai! o cão! como ele olha / a onda de mar adentro / que se arrima até a beira! / O dono no turbilhão /
perde o hábito de vida... / Ai! o cão! Como ele olha! / Já não lembra aquele barco / que se fora mar adentro / como um peixe à deriva.../ Já não recorda uns olhos / Reflexo em suas pupilas.... / Ai! o cão! Como ele olha! / Corpo e alma empedrados / procuram no horizonte / de amor e ânsia de espiga / e uma lágrima de sal / ainda lhe treme nas pupilas...
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