Versos
de ternura e de blasfêmias, de erotismo e de saudades. Poeta d e recente voz
tornada pública mas de um sábio poetar como se os anos fossem muitos: Teobaldo
Noriega, nascido na Colômbia em 1939, arguto e sensível crítico da Literatura
Latino-americana.
Em
1983 publicara La novelística de Carlos
Droguett:aventura y compromiso pela Editorial Pliegos de Madrid a mesma que
no ano seguinte lhe edita Candela viva, seu primeiro livro de
versos. Não, porém, um livro de poeta principiante, embora seja o princípio de
uma poesia que busca no choro, na raiva, no grito os novos símbolos. Símbolos
que se ancoram num dizer grandemente lírico, grandemente simples. Palavras que
fluem com a limpidez do sincero sem retoques. Dizendo do destino do homem ( engole o teu quinhão), de suas dúvidas e
certezas. Da vida ( Pode-se amar a vida o
que já é suficiente) e da poesia. Dizendo do amor. Quando lhe é suficiente
a lembrança da mulher amada no belo
poema “Fué sencillo”; quando o remorso de servir um vinho amargo à companheira
é por si só uma dor sozinha. Ou, ainda, quando trata do amor que é violento
encontro à espera de muito mais ou tão profundo que se compraz no ritual
inusitado dos amantes sem pudor. Um amor
reafirmado na busca e nos encontros. Que segue as pegadas inexistentes, um pai
perdido em qualquer sombra de seu corpo ou em qualquer misterioso canto da
memória, presença desejada que encontra na marca de outros passos, no trato de
outras mãos. Para perder de novo. Um amor carregando presença na saudade da mãe,
distante, perdida e reencontrada nos mil regressos entre o beijo e a fuga.
São
sofrimentos que se esparramam nas páginas em branco: Esta folha tão branca / na qual escrevo agora porque não agüento mais.
Porque sofre, simplesmente ou porque a vida já o marcou bem forte na infância
rodeado de abandono e na juventude transformada pelo sonho. E, então, desse
interior que se estraçalha e se reconstrói, o olhar para seu espaço primeiro no
qual se mesclam as muitas dores do ritual tairona, cristão e africano, a pátria da escola primária prenhe de
histórias de constituições revisitadas e de nomes hierárquicos e de lutas
fraticidas, de punhais e de balas, de vis esquecimentos.
E
o sentir dos outros a delinear o sapateiro, o vendedor de guarapa, o cego
negociante de loterias, a prostituta, o maricas . Um sentir que se espraia no
desejo, na esperança de fabricar sandálias novas tirando-as de antigas baionetas, de extrair o
sol do objeto que já foi granada. Como se acreditasse, realmente, na chegada
desse dia glorioso em que eles, os colonizadores se comerão, em que mijaremos nos seus túmulos. Catarse
necessária ( e quão inofensiva) para aqueles que esperam (ainda) um destino
digno para o Continente. Espaço que resiste aos maus tratos e às maldades dos
usurpadores que ao longo de gerações usufruem de riquezas que deveriam ser de
todos.
E,
tanto quanto o desabafo é urgente, é urgente limpar, purificar. Um ritual novo.
em que o lenhador não lenhe
nem o pescador punha as mãos no rio
porque
por tarefa comum
desenvenenaremos a paisagem.

Nenhum comentário:
Postar um comentário