Também D. Amélia, a dona da pensão do Rio de Janeiro,
e sua filha Nanci irão demonstrar espontânea disposição em ajudá-lo.
Ao
sair da prisão, sem recursos, ele morou, com
Norberto, seu companheiro de viagem, escondido na casa de pensão.
Dormiam no quarto de um pensionista de quem ficaram amigos e para não serem
descobertos usavam de estratagemas: subiam os degraus da escada, ao mesmo
tempo, com passos simultâneos; pensando que a dona já ficara desconfiada,
dormiam durante o dia pois as visitas não eram proibidas. Ao precisar da ajuda do pensionista para
resolver um delicado assunto de família
- a ida à delegacia no intuito de
responsabilizar o hóspede que seduzira sua filha - D. Amélia aceitou-lhes a
presença. Até sugeriu – achando uma
crueldade que ele fosse abandonado em São Paulo – que ficasse mais tempo no Rio
de Janeiro, pois sua passagem poderia ser vendida ali na sua casa mesmo, uma
vez que todos os dias havia pessoas que viajavam para São Paulo. Quando Norberto lhe consegue uma passagem marítima, D. Amélia
arranja para ele uma pequena mala e todos da pensão procuram, sem êxito, persuadi-lo porque não queria viajar de navio. Então, Nanci, com muito jeito, o convence a partir.
Raro na trajetória do Cati, desde o
início de sua viagem em Porto Alegre até a sua volta para Quaraí, esse momento
em que ele decide por si mesmo, embora submisso à entonação carinhosa da voz
feminina que o anima ( -Meu benzinho vai
embarcar, sim, Ele vai, sim.) e o torna confiante, para expressar, ainda que num
sussurro, o grande medo que sente de que o levem para o Cati, (lugar que lhe
ficou gravado, desde criança, como lugar
de prisões e de mortes).
Mais do que
piedade, como ocorre com D. Rita, D. Miroca, D. Amélia, há em Nanci
um enternecimento, no trato com o Cati que, diante de seu olhar
de uma pureza de criança, só faz aumentar e lhe completa o perfil de mulher
amorosa. Pois além da função que lhe é atribuída, como às outras, no relato -
provocar mudanças no percurso do Cati e na sua história – possui, também, como vítima dos
preconceituosos usos e costumes ( e leis) de sua época, uma função
denunciatória que as qualidades de um narrador da estirpe de Dyonélio
Machado, fazem ser de admirável sutileza
e nem por isso menos contundente.

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