Com o romance Humberto Fabra, publicado em Paris
quando ele tinha vinte e três anos, inicia a sua carreira de romancista,
dramaturgo e ensaísta da qual Caniquí
será um dos importantes momentos.
Trata-se de uma bela obra
romântica, construída a partir da figura de Mariceli. Muito jovem e rica, a
exagerada educação religiosa a faz confundir os sentimentos que nutre pelo
primo com uma nefasta inclinação mística.
Então, entre os dois há
silêncios, mal entendidos, desencontros e uma sofrida separação até que os
sentimentos venham a se definir.
Entremeando-se à narrativa,
o cenário de uma velha cidade cubana com suas festas religiosas, suas relações
sociais profundamente regulamentadas é
tão importante quanto as breves digressões sobre a política vigente em Cuba nos
primeiros anos do século XIX: a Metrópole ordenando e exigindo, a Colônia se
submetendo.
Insolência e intransigência
por parte dos peninsulares, pugnando por idéias “rançosas”, opondo-se a
qualquer desejo de progresso dos habitantes da Colônia enquanto, no Continente,
as lutas pela liberdade decidiam os caminhos.
Nessa oposição entre
“godos”, os espanhóis e “mulatos”, os cubanos, havia os que se embriagavam com
sonhos da liberdade que os franceses tinham experimentado uns anos antes e os
que pensavam não estar o povo preparado para a independência porque lhe faltava
educação, sentido econômico e prático da vida, restando-lhe, apenas, curvar-se
diante da autoridade da metrópole, “paternal”, “ilustrada” que pretendia domesticá-lo.
Na verdade, embora em Caniquí, José Antonio Ramos esteja a
falar dos ibéricos, “os donos” de turno, está pensando na outra mais recente
vassalagem à qual Cuba se submeteu no instante mesmo em que se libertava do
jugo espanhol.
Porque, nas palavras
introdutórias ao livro, ele dirá que a vassalagem à usura ianque em Cuba parece se acentuar com graves sintomas de decomposição
social e que seu romance só será entendido muitos anos mais tarde.
Recém corria o ano de 1935 e
hoje ninguém ignora a que ponto chegou em Cuba essa decomposição social.
Tampouco ninguém ignora o quanto o poderio ianque jamais deixou de querer o
usufruto da Ilha que perdeu.
Assim, quando José Antonio
Ramos faz dizer a um de seus personagens que se estiverem dominados pela avidez
de Liberdade na Ilha, os Amos Brancos jamais
irão viver em paz. Mais do que um
desejo, ele formulou um vaticínio.

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