Todos disputam direitos,
mas, amigo, sabe Deus
se conhecem seus deveres
...
Que direitos nem que diabos!
Primeiro é a obrigação;
cada um cumpra com a sua
e depois será a razão
que reclame seus direitos.
Bartolomé Hidalgo
A
poesia gauchesca surge com o “cielito” (quarteto com rima assonante, seguido de
um estribilho no qual sempre aparece a palavra “cielito”) de Bartolomé Hidalgo,
nascido em Montevidéu em 1788.
Compreendendo ser a linguagem típica dos pajadores, o veículo de comunicação entre aqueles que aspiravam conquistar a liberdade política, ele se valeu dessa linguagem para protestar contra a tirania dos invasores, no caso, os espanhóis na América, e para exaltar o amor pela pátria em formação.
Entre
suas composições diz Domingo A. Caillava na História de La Literatura gauchesca en el Uruguay (Montevidéu,
1945), - odes dramáticas, hinos, epitalâmios, romances – aquela que lhe deu renome
e celebridade foi o “diálogo”, gênero muito apreciado na época.
São três os diálogos de sua autoria:
“Diálogo patriótico interesante entre Jacinto Chano, capataz de una estancia en
las Islas del Tordillo y el gaucho de la guardia del Monte”, “Nuevo diálogo
patriótico entre Ramón Contreras, gaucho de la guardia del Monte y el capataz
de una estancia en las Islas del Tordillo” e “Relación que hace el gaucho Ramón
Contreras a Jacinto Chano, de todo lo que vió en las fiestas mayas de Buenos
Aires en 1822”.
Esses
diálogos são poemas narrativos onde a estrutura é sempre a mesma: eles se
iniciam com o encontro dos interlocutores (um vem de visita ao outro), o
convite para apear do cavalo, o oferecimento do chimarrão, o contar das
notícias sobre acontecimentos políticos, o expressar de opiniões.
Os
interlocutores se exibem, então, como gaúchos patriotas que, na sinceridade das
assertivas, se mostram tal como são nesse linguajar popular e rico de figuras
em que se expressam.
E o
diálogo que se instala manso se transforma e diz dos anseios de igualdade e dos
anseios de liberdade que os homens que lutam presumem devam ser para todos.
Dizem das preferências dadas aos aduladores, dos gastos públicos, enquanto as
estradas permanecem intransitáveis e os edifícios inconclusos e os pensionistas
do Estado morrendo de fome.
Incongruências
que fazem desse presente em que viviam, algo não somente para lamentar como
para levar ao surgimento desse patético desejo de corrigir, de melhorar, de
vislumbrar um futuro.
Então,
no cenário simples e brando das campanhas do sul do Continente, combativo e
forte há um cantar verdades.
Entre
um mate e outro.
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