domingo, 18 de novembro de 2007

Inusitada escala musical

            O espaço no romance O Louco do Cati (Porto Alegre, 1944 e recente edição da Planeta), de Dyonélio Machado, oferece múltiplas possibilidades de aproximações; seja, entre elas, o lugar em que transcorre a ação, extremamente diverso, devido ao longo itinerário  pelo qual é conduzido o personagem, seja pelos, também, diferentes ambientes que é levado a freqüentar. Tanto os lugares indicados pelos topônimos – e são muitos, na viagem empreendida – quanto aqueles, encerrados entre quatro paredes são apenas esboçados pelo narrador. No entanto, como o faz em relação ao tempo do relato ou a seus personagens, uma vez que é deveras parco em propiciar detalhes, serve-se do parênteses com o fito de oferecer uma informação adicional. Considerando os espaços amplos e exteriores (a cidade e a rua) e aqueles fechados (a casa), essas informações mencionam algo referente à ação – isso fora em Porto Alegre, onde se encontrava, de passagem [...], O funcionário informou: -Não se consegue senão uma passagem até a estação do Norte (São Paulo, Num café da praça Tiradentes (para os lados do Recreio), Norberto e o companheiro encontravam sempre um rapaz de Alagoas [...]. Ou explicam a localização, por exemplo da bomba de gasolina (quase defronte da porta principal do hotel), do Mercado de Lages (que ficava numa das faces, no correr mesmo da rua principal da pequena cidade), do hotel de Livramento (situado, não na rua principal mas, mesmo assim, bem no centro)”. Algumas vezes, entre parênteses, adendos referentes à casa: Ao chegarem numa casa de esquina (o vento aí estava forte mesmo: é que o mar se achava perto), O café [...] contava com muitas portas, abertas para duas ruas (era de esquina). Outras vezes, detalhes sobre alguma dependência: a luz avermelhada da varandinha, a peça da casa que era ampliação de um corredor (o desvão para um desafogo, um téte a téte, uma fuga em dias de aglomêro).
 

            E, também, referências a um ou outro móvel. Em relação estreita com ações dos personagens, algumas parecem, ter o objetivo de um indispensável registro: o da experiência na cadeia. Na seqüência em que Norberto, embarcado preso com o Louco do Cati, para o Rio de Janeiro, reflete no seu beliche, segue-se a explicação: “(os beliches eram dispostos em sentido transversal). Em outra, o Louco do Cati, exausto da viagem e do susto ao ser jogado na cela, senta-se sobre uma tarimba.(O cubículo possuía duas camas, estreitas como tarimbas de quartel). Principalmente, a presença do cadeado na porta da prisão de Florianópolis para onde foram levados Norberto e seu companheiro. Ao ser aberto pelo sargento que os acompanhava, fez o barulho cristalino de ferros, em cascata (da corrente que se desprendia) e deixou ouvir, ao ser fechada, com os dois lá dentro, a porta gradeada (outra vez a mesma escala musical e cristalina da corrente deslizando nos ferros).

            Encerrada entre parênteses, uma simplicidade que não mais se mostra inocente.

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