Em
Porto Alegre, desce do bonde e, por a caso, ao entrar num armazém de fim de
linha, para a compra de cigarros, aceita o convite de quatro rapazes que lá
estavam e segue junto com eles para a praia, no passeio que deveria durar
um dia e que para ele e para Norberto,
acabou resultando num tempo bem maior em que acontecimentos foram surgindo e os
levaram até o Rio de Janeiro de onde ele volta para o lugar de sua infância, às
margens do Cati, no extremo sul do Rio Grande.
É
extremamente numeroso o uso dos parênteses no texto de Dyonélio Machado. Em O Louco do Cati eles são usados como um
adendo coloquial que acrescenta uma informação seja em relação ao espaço
romanesco, seja em relação aos personagens ou ao tempo do relato. Resulta,
porém, curioso que nos casos de referência ao tempo, essa informação resulte
sempre imprecisa: O maluco já dormia. (
Era noite). Ao caminhar pelo campo, já nas terras do Cati, só mais tarde (já de noite, uma noite chegada mais cedo),
conseguiu sair do vale por onde se embrenhara; ainda, A chuva
não passava.(Eram pouco mais de cinco
horas da manhã); quando caminhavam pelas areias do litoral gaúcho, Aquela
hora ( seriam as sete da manhã), acrescentaram à rapadura um naco de queijo[...].
No Rio de Janeiro, Norberto e Lopo
estavam no seu lugar habitual, no café da Praça Tiradentes ( era de manhã);
ao saírem em busca de uma requisição para conseguir a
passagem do maluco para o sul era cedo
ainda ( era de manhã). Na menção ao horário do ônibus no qual embarcaram
Norberto e o Maluco, com destino a Araranguá, a informação é vaga, à noite e, então, ente parênteses, um
dado igualmente vago: (nove horas mais ou
menos). Geraldo que hospedara o Maluco em Lages, havia ido para a capital
com seu caminhão e já fazia dois dias.
Pouco tempo mais ( talvez até no dia seguinte)
ele estaria de volta. No Rio de Janeiro, no centro da cidade, aquela hora muito movimentada certas pessoas que procuravam os bondes ( era quase
meio dia).
Há
vezes, em que e menção ao tempo se entrelaça àquelas que se referem às
condições meteorológicas. Salvo uma vez em que é descrita a paisagem do Rio
de Janeiro, divisada da casa do professor de medicina, é elogiosa: “Da terraça principalmente aquela hora ( anoitecer), era uma beleza [...]; nas
demais, as referências são à chuva, ao vento, ao frio. Em meio ao diálogo do capitalista e da mulher
que o acompanhava - protetores do maluco-
sobre a continuação da viagem, entre parênteses a informação ( era
depois do almoço, dum dia frio e
ventoso, mas seco). Casos há, também, em que se acrescem à noção de tempo,
elementos subjetivos: ventava furiosamente
( Noite muito feia).; quando rompeu
o dia ( quase tão escuro como a noite e
tão assombrado como ela [...]); ou, o tempo é definido pela própria palavra
tempo ( talvez naquele dia que iria nascer chuvoso e escuro, talvez na outra
noite – num tempo misterioso
qualquer) estaria entrando no Cati [...].; e entre as lembranças do Maluco, o período em
que estivera preso com Norberto, em Florianópolis, a síntese do que acontecera: ...Naquele tempo, eles estavam num quarto escuro, lá
mesmo...Empenhavam-se numa luta...A tarefa era não comer!. Também, a lembrança daquele par de trilhos que cruzara: mas há muitos meses num dia de calor e dum vento morno que
soprava do mar . Ainda,o demonstrativo que remete a um tempo indefinido: Aqueles dias ( chuvosos, dissimulados, misteriosos).
Imprecisões
no registro do tempo e algo de tristonho que, por vezes, o acompanha, revelam
um narrador que se aproxima do claro-escuro nos meandros de uma narrativa cujo
fina, no entanto, é feito da luminosidade de um céu azul e de um sol que
brilha.



