“Oda
a la vida” é o penúltimo poema de Odas elementales, livro publicado em
Buenos Aires, no ano de 1954, no qual Pablo Neruda inicia o seu cantar das coisas simples num intuito didático que se expressa no
desejo de mostrar, descrever, doutrinar, corrigir, estimular como enumera Emir
Rodríguez Monegal em El viajero inmóvil. Nos primeiros versos de “Oda a
la vida” Pablo Neruda se mostra um ser humano como todos, a mercê
dos sofrimentos que tornam as noites brancas: com um machado me golpeou a dor. Mas, sobrevindo o sono, com
poderes de purificação, passou lavando
como uma água escura / pedras ensanguentadas e, assim, o novo dia estabelece, outra vez, a
resistência. Na segunda estrofe, o Poeta se dirige à vida, chamando-a de taça clara a conter os repentinos senões
que pode e que, metaforicamente, designa
de água
suja, vinho morto, teias
de aranha, além do já conhecido – a
agonia, as perdas – que alguns, constata,
podem considerar como perenes. O que, no entanto, ele rebate, com firmeza, na estrofe seguinte,
feita, o que é assaz raro neste livro, de um único verso. Prosaico, afirmativo
na sua negação – Não é verdade.- a introduzir os argumentos que afirmam o efêmero dos
males pois basta uma noite ou um minuto
para que se instale a vitória da
limpidez, contida no cálice da vida, do trabalho amplo, desse movimento que faz
nascer as pombas e estabelecer a luz sobre a terra. Apologia que irá se
completar nos versos em que o Poeta compara a vida com a
mulher amada, com a vinha e naqueles em que , justapondo palavras concretas e abstratas,
torna a defini-la, conferindo lhe um dinamismo inesperado: guardas a luz e a repartes. Porém, somente depois de lembrar os poetas ( os
pobres poetas) que sem lutar, a
percebem amarga.
A
última estrofe, a mais longa do poema,
conduz ao ensinamento, calcado na sua visão de mundo, dirigido aqueles que da vida renegam, que
recebem os golpes sem resistir e se afogam no
luto de um poço solitário. Didático, Pablo Neruda repete que os males
são passageiros, que basta esperar um minuto, uma noite, um ano . Que não
importa o tempo necessário para que a
mudança se faça e sim o ato de abandonar a solidão, de perseguir respostas, de
pretender suas mão em outras mãos, de
não adotar nem bajular a desdita mas, com ela se fortalecer.
Ainda
que o Poeta busque a simplicidade o que
na verdade, quase sempre, procurou
fazer, e nas odes foi uma intenção primeira e que nesta “Oda a la vida” ela esteja
presente na menção de fatos corriqueiros
( não saíram contigo / da cama, corte a desdita / e se faça com ela / calças)
; na discrição das imagens (cor do inferno,
entre os seios tens cheiro de menta); na simplicidade dos símiles (como
uma vinha, dando-lhe forma de
muro como à pedra os pedreiros) ; na combinação de palavras do cotidiano
que desabrocham, sugestivas ( ternura de
azeite delicado, som de tormenta) , ele não se deixa iludir ao enunciar suas
verdades.
Assim, na afirmação final, a completar as
palavras de ordem que pregam o repúdio da solidão
mentirosa e da infelicidade, como
que inconteste, se erige a crença do Poeta nesse destino comum a todos os
homens: a vida nos espera / a todos [..]
. Mas a ressalva que se lhe segue, a
impor restrições, – a todos / os que
amamos / o selvagem perfume de mar e menta / que [ a vida] tem
entre os seios - revela, a sabedoria de aceitar que, nem sempre, a palavra cai em terreno fértil; que, nem
sempre, tampouco, todos são os que as entendem.


