No Egito, uma
longa composição musical de Rau Mohamed lamenta a sua morte. Na França, Collete
Magny; na Itália, Elena Morandi; no Brasil, Sérgio Ricardo; na Espanha, Antonio
Antiquera. Na América Latina, os melhores nomes da música, então chamada de
protesto: Pablo Milanês, de Cuba; Daniel Viglietti, do Uruguai; Victor Jara, do
Chile e uma infinidade de outros mais. As canções dizem de seus méritos e de
seus ideais – América libre es la patria
mia –, da semente que deixou e que nem o vento, nem a neve irão destruir.
Ou expressam uma despedida ou afirmam que não morreu, pois cada guerrilla nueva lo hará sentirse vivir. Também falam desse espaço
de planaltos e selvas por onde encaminhou seus passos e desses militares, da
fúria dos poderosos que o seguiram até a sua morte da qual não haverá
esquecimento. Algumas, são puro lamento, expresso na música e nas vozes;
outras, querem ser alegria porque acreditam no valor da herança que deixou. Quase nenhuma delas, salvo
por aqueles que, se constituindo exceção, têm interesse pelo que acontece no
Continente, foi ouvida pelos
brasileiros, pois, sabidamente, o Breasil dá as costas para a América Latina.
Assim, somente trinta anos depois e porque um amigo, o Dr. Joaquim de Montezuma
de Carvalho, insigne ensaísta português, me enviou cópia de um texto publicado
em A nossa gente (Ano XXVII, número 1.112, de 2004) tomo conhecimento do
disco Galicia Canta, de 1970, o
primeiro a ser editado com poemas e música galega, proibidos na Espanha. Com a
ajuda de Celso Emilio Ferreiro, cuja obra serviu de guia a muitos poetas
galegos dos anos 60, um grupo de jovens artistas, que procuraram refúgio na
Venezuela, realizaram um trabalho de resgate dessas composições. Entre as doze
cantigas que compõem o disco, hoje uma raridade, a “Pandeirada ao Che”, tem
música de Xulio Formoso, numa interpretação em que está presente o toque do
pandeiro de Celso Emilio Ferreiro, para o poema de Farruco Sesto Novás.
Nascido
em Vigo, cidade da Galícia, na Espanha, Farruco Sesto Novás emigrou, em 1943,
com a família, para a Venezuela onde se formou em Arquitetura e onde se tornou
um dos seus mais destacados profissionais. Embora esteja profundamente
arraigado no seu país de adoção, conserva o galego como língua literária. Seus
livros foram publicados em Caracas, geralmente em edições de reduzida tiragem. Da
estrela e da fouce (1967) foram somente duzentos exemplares. A ele se
seguiram Por unha mulher (1976), Porta Aberta (1976), Poema de
amor a Rosalia (1985). No poema “Pandeirada ao Che”, Farruco Sesto Novás,
militante de esquerda, se prende não à figura do Che, mas à mensagem de seu
ideal revolucionário. Usando um tema que
parece ser caro aos poetas da Galícia, o vento, o incorpora ao ideal do guerrilheiro que se quer
livre e desimpedido para ir e vir e assim poder se espalhar. Um vento que é como uma
estrela, como uma foice, que nada imobiliza e que nada, nem mesmo a morte,
detém. Um vento pleno de vontade de queimar e de transformar; um vento que muda
em rosas o sangue que o antecede, que abate os inimigos, que afugenta as
sombras, dando lugar ao amanhecer. Um
vento de lua nova que é luz do dia. E que, assim, invencível, tem um nome. A voz
do poeta, dirigindo-se ao guerrilheiro, o diz: um vento que leva o teu nome Che.
Verso que é entremeado aos demais do poema e se repete sete vezes, formulando a
certeza de que haverá mudanças e que elas partirão da figura revolucionária do
Che Guevara e de seus ideais.
Uma
cantiga, nesses idos de 1970, ainda a prenunciar futuros, ainda a presumir
esperanças.

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