A Imprensa
Oficial do Estado do Paraná publicou neste ano de 2002, na sua coleção “Brasil
Diferente” e organizado por André Seffrin, Notícias
do Paraná: comentários de Walmir Ayala sobre a arte paranaense (além de
duas cartas, uma dirigida a Dalton Trevisan, outra a Curitiba) que apareceram,
originariamente, entre 1968 e 1991, sobretudo, no Jornal do Brasil e no Jornal
do Comércio do Rio de Janeiro e em
Catálogos de Exposições. Os numerosos textos que fazem parte do livro comentam
as obras de artistas paranaenses e a política cultural do estado. Três dentre
eles tratam de Hélio Leites. O Hélio Leites que inventou o Assobiódromo
Municipal de Curitiba, criou a Associação Internacional de Colecionadores de
Botão e a Ex-cola de Samba Unidos do Botão com seus carros alegóricos em
miniatura e que merece do crítico gaúcho palavras entusiasmadas: esse feiticeiro
que criou, em cima do botão e do assobio, um movimento altamente criativo, o louco e criador e artista e poeta e equilibrado, mestre da poesia, arte postal e comunicação. Um inventor, raríssimo artista brasileiro. Sem
dúvida, o incomum senso de humor, a perspicácia
crítica e uma criatividade verdadeiramente sem igual fazem de Hélio
Leites um representante do pensar
estético brasileiro muito
peculiar e muito autêntico. E de uma autenticidade que se mostra, igualmente,
no seu lirismo feito do inesperado e do surpreendente, do triste e do
melancólico, fruto de um cotidiano convívio com os humanos.
Há
exatamente dez anos, Hélio Leites publicava n’O Estado do Paraná, um pequeno texto com o título de “Tigre Curitibano”. Poema cujos três
primeiros versos, com a objetividade que procura informar, sintetizam um fato
que pode ser considerado e, certamente, o foi, por muitos, banal: o ter sido
dada a morte a um tigre que fugira do circo e com essa morte, proporcionada à
cidade condições para dormir tranqüila.
O verso que segue, porém, ao definir tal sono como um sono de chumbo
introduz metaforicamente a noção de responsabilidade pelo crime ecológico que
provavelmente as boas consciências justificam tanto quanto amestrar animais
selvagens e condená-los, apenas para deleite de alguns, a um cativeiro cruel e
injustificável. Também metafóricos os versos seguintes que falam do animal
morto e que dorme, verbo a introduzir
a palavra pijama que o irá descrever amarelo de listas negras. Logo, o
retorno à cidade, desta feita, catalogada como costuma ser, capital ecológica, na qual pinga algo de
vermelho o que, sem dúvida, está longe de ser aleatório ou inocente. Depois, a
menção à fonte da informação primeira, a manchete dos jornais, dando conta do
ocorrido para, então, surgir, o libertar da emoção. Ela cabe nos versos finais
em que a expressão jaula vazia tem
origem na realidade – o tigre não mais a habita – e num fantasioso desejo – o tigre voa vivo. Um voar impossível e
um impossível estar vivo para a vítima da urbana caçada inglória, travada no
asfalto. Mas, na ausência da vida, a sua imagem persiste na recriação do poeta
que não deixa esquecer a triste vida desse tigre enjaulado e a triste morte que
lhe coube.

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