Em
1975, entre dizeres de amor, elucubrações sobre o mistério de viver,
constatações a girar em torno do ofício de poeta, no dia 18 de outubro, o seu
texto tem por título “A guerra e o desespero”. Que algum momento bélico tenha
estado na sua origem é bem possível, pois os habitantes do planeta jamais
cessaram de se digladiar. Mas, uma origem ou outra importa pouco (ou
infinitamente muito) e suas palavras expressam o que está aquém das simplistas
razões justificadoras de conflitos.
Começa
por dizer que as guerras têm aparentemente
o fim de destruir o inimigo, para completar, em seguida, que, na verdade, o
que elas conseguem é destruir parte da
humanidade. E que seria ridículo atribuir qualquer idéia de expurgo à Natureza – com N maiúsculo como, também, se
trataria de humor negro, o responsabilizar esse expurgo à insondáveis desígnios da Divina Providência. O que, mais modernamente, poderia ser traduzido por Deus está do nosso lado, frase que,
embora possa parecer impronunciável neste século XXI, ainda é passível de ser
dita como verdadeira sentença nos atribulados e injustos dias que correm.
Sobretudo, demonstrativa de inabaláveis convicções que, no entender de Mário
Quintana, nada tem a ver com a lógica
ou com alguma idéia até porque, lhe parece, as idéias se mostram escassas. E,
além do mais, usar idéias para falar de guerras e guerrilhas é recorrer a um instrumento inadequado.
Na
simplicidade de suas palavras, contidas na exemplar síntese que lhe é habitual,
a expressão de um questionamento necessário, senão imprescindível. Porque, na
verdade, é difícil, senão impossível, justificar a ação violenta de um país
sobre outro, principalmente, se o atacado for pobre e fraco. Assim, qualquer
discurso que o fizesse (e faz) só pode ser alimentado de mentiras, de
falsidades e de má fé, pretensamente a esconderem dúbios e lucrativos
interesses que, certamente, não engana ninguém, mas faz escola entre os que se
submetem às palavras de ordem, escritas em maiúsculas – Deixemos as maiúsculas em paz diz Mário Quintana – a visar um
significado inconteste.
Sabe-se,
então, que pouco resta a fazer. Para o Poeta (deve-lhe ser penoso ensarilhar
armas) há, ainda, uma tentativa: o humor. Um recurso que parece lhe ser caro,
pois está presente em muitos de seus versos e textos em prosa. E é com ele que
termina “A guerra e o desespero” a se servir de um diálogo: - Então ó homo sapiens, que vais fazer nesta
situação desesperada? – Ora, alistar-me... toda opção é um ato de desespero.
Um humor,
evidentemente, sem inocência porque, além do sorriso que talvez provoque pelo
rótulo que aplica aos homens e pelo inesperado da resposta leva, como prega o
dramaturgo italiano Luigi Pirandello, à cristalização do riso. E mais, a um
cruel axioma, relacionado a um inerente comportamento humano que não raro, se
mostra inquieto e infeliz.

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