Embora
esta decisão tenha tido origem na sua
própria compreensão dos fatos, nesses poucos dias em que se mostrou indecisa e
fraca, movidas por interesses opostos, a mãe e a sogra se lançam à luta para
coaptá-la. Degladiam-se, então, a mulher
virtuosa e a mulher leviana, mostrando-se,
ambas, igualmente deploráveis nesse perfil maniqueísta que é traçado sem
contemplações por uma narradora submissa aos cânones de autores como Balzac,
Zola, Flaubert, Eça de Quierós, como o apontou Maria Angélica Guimarães Lopes.
Também, apontou, no trabalho intitulado “Desafio materno: A Luta de Carmen Dolores” introdução ao romance de Carmen Dolores (pseudônimo de
Emilia Moncorvo Bandeira de Melo), agora reeditado pela Editora Mulheres de
Florianópolis ( e EDUNISC de Santa Cruz
do Sul) que as verdadeiras protagonistas do romance são as duas matronas: uma a
querer obstinadamente que a nora retorne a seu lugar na família; a outra a
desejar que a filha opte pelo amante rico, embora tal escolha a leve a assumir
uma situação marginal na sociedade.
Curiosamente,
essa dicotomia Bem/Mal, representada na defesa de preservar os valores da
família tradicional e na busca da aquisição de riqueza, ainda que por meios
escusos, se expressa no conflito entre as consogras. Com sinuosa habilidade
narrativa, a romancista vai, aos poucos, lhes acrescentando razões para o
definitivo confronto que irá culminar com a supremacia dos bons costumes: a
sogra leva a nora e a neta de volta para casa. A mãe, com a face esguedelhada de vencida olha para as outras filhas, escuta
dúbias promessas de uma delas e tem
esperanças.
Tanto
Celina, ao voltar para o marido, quanto as suas irmãs, predisposta, uma à vida
fácil que lhe paga os luxos e, buscando a outra, um casamento vantajoso que lhe
proporcione comodidades, elas se prestam, à perfeição, ao jogo
de interesses inconfessáveis de que fala a romancista, como parceiras que somente sabem negociar o corpo. Daí a menção
a exploradas e exploradores no término do romance, a sugerir,
talvez, uma leitura nas entrelinhas porque, pelo menos, explicitamente, não é a
historia de exploradas o que é contado, mas a de mulheres que procuram
tirar proveito dos assim chamados exploradores.


