Quando,
em 1995, Orixás: pintura e poesia foi publicado, a edição logo se
esgotou. Passados cinco anos, a prefeitura de Porto Alegre fez surgir a sua
segunda edição, uma pequena preciosidade, feita das pinturas de Pedro Homero e
dos versos de Oliveira Silveira.
A
partir de suas vivências e, tendo como fonte de pesquisa O batuque no Rio
Grande do Sul de Norton F. Corrêa (publicado pela Editora da Universidade
do Rio Grande do Sul, em 1992), Pedro Homero criou uma série de lindíssimas
interpretações dos orixás: Bará, Ogum, Iansã, Xangô, Obá, Odé, Otim, Ossanha,
Xapanã, Oxum, Iemanjá, Oxalá. Estilizadas figuras humanas, sempre em movimento,
rodeadas de seus símbolos – círculos, algum elemento vegetal ou um pássaro –
vibrando nas suas cores sem nuanças: vermelho, preto, verde, azul. A ilustração
de cada orixá é acompanhada de um texto, dizendo de seus poderes, sua cor e
seus símbolos, os vegetais e os animais que rege assim como a saudação e os
números que lhe são pertinentes. E, entrelaçando-se a cada figura, os versos de
Oliveira Silveira. A refazer com palavras, o retrato do orixá (rainha negra e com seu facão,/sete navalhas bem afiadas, cântaro e água da fonte), a mencionar-lhes os dons (Vento que espalha pólen e semente / ou traz
tempestade, fecunda / e destrói ,/ empurra
nuvem, move árvore, agita, turva, limpa o
ar[...], da erva e do chá / e da boa saúde). Ou, a lembrar raízes nesse batuque/tuque/tuque/todo muque/no tambor,
som que se eleva como um chamado que, primeiro, bate no próprio peito. Raízes
que para ele, gaúcho de Rosário do Sul, estão nesse Rio Grande onde ogum é filho de santo de bombacha e nesse
espaço incógnito que ficou para trás e fez dele e de todos os negros, caules decepados.
Mas
a vida, a seiva que, poeta, ele entende como este som de cratera / que a gente vai fundo buscar emerge de seus versos e das formas e cores da
pintura de Pedro Homero. Beleza e beleza num testemunho comovente e
enriquecedor.



Nenhum comentário:
Postar um comentário